Minha vida é movimento.



Dança. Compasso.



Canto.




Minha vida é passo.



Caminho, escuto, recordo.



Encontro e decanto.



Conflito, reflito e traço.



Minha vida é campo



onde lanço, arado.



Onde laço, espanto!



Onde tanto, escasso.



Onde espaço, encanto.



Onde espanto, abraço.







terça-feira, 31 de agosto de 2010

SETEBOM - AULA - INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA - 30/08

SETEBOM – 2010/2
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA
Prof: Maria Beatriz Versiani

A PRÉ HISTÓRIA DA PSICANÁLISE

- No século XVII inaugura-se um modelo de pensamento que se propõe a pensar a subjetividade. A partir de Descartes, a representação passa a ser o lugar de morada da verdade. Platão é o inspirador desse pensamento, tendo o movimento platonista fundado o domínio da representação. A questão em Platão é o estabelecimento do dominio da verdade, da constituição da ciência. A realidade somente pode ser descrita através da sua representação simbólica
- Descartes formula o cogito: Penso, logo existo. O pensamento cartesiano nos coloca perante a hegemonia da consciência, ou seja, a consciência é o lugar da verdade.
- O pensamento do final do século XIX se contrapõe “cogito” cartesiano, e Freud através da sua psicanálise produz uma derrubada da razão e da consciência do lugar “sagrado” onde se encontravam. Freud coloca a consciência num lugar de dúvida, de ocultamento da verdade.
- O começo da psicanálise é a produção do conceito de inconsciente, que resultou numa clivagem (divisão) da subjetividade . A partir da psicanálise, a subjetividade deixou de ser pensada como um todo identificado com a consciência, para ser dividida entre dois grandes sistemas: consciente e inconsciente. Lacan, relendo Freud, formula: Penso onde não sou, portanto sou onde não me penso. Há algo da subjetividade que escapa ao nível consciente, e esta é a base da teoria formulada por Freud. O sujeito do enunciado (aquele que faz uso da palavra e diz: eu sou, eu penso), não é aquele que nos revela o sujeito da enunciação (aquele que se situa numa porção inconsciente e que se revela fora do discurso formal). A psicanálise inaugura a formulação do homem visto como um sujeito fendido, dividido. A subjetividade deste homem estaria dominada por uma luta interna entre essas duas realidades.

“O que faço não o entendo. Pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço, isso faço. Acho então essa lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo. Pois Segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus, mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros.’ (Bíblia de Referência Thompsom, Rm 5:15;21-23)

Será que podemos reconhecer esse sujeito dividido no dizer de Paulo em sua carta aos Romanos? Um sujeito que não é senhor de seus próprios atos, pois há uma realidade que escapa ao domínio da sua vontade consciente. Para o saber psicanalítico, esta é a condição de todo ser humano.

O sujeito do enunciado não é aquele que nos revela o sujeito da enunciação, mas aquele que produz o desconhecimento deste ultimo. Dito de outra maneira: o cogito não é o lugar da verdade do sujeito mas o lugar do seu desconhecimento. (GARCIA-ROZA, 1987, p.23)

- Conforme Garzia-Roza, o século XVII foi o momento de emergência da loucura, que até então não existia como o reconhecimento de uma doença, mas apenas como diferença (FOUCAULT. M, 1978). O louco ocupava um lugar de diferente assim como o alcoolatra, o leproso, o deliquente, o sifilítico.

“Também o leproso, em quem está a praga, andará com as vestes rasgadas, a cabeça descoberta e os cabelos soltos, mas cobrirá o bigode e gritará: Imundo!Imundo! Será imundo todos os dias em que a praga estiver nele. É imundo e habitará só; a sua habitação será fora do arraial. “(Bíblia de Referência Thompsom, 2007. Lv 13:45-46)

- A instituição do saber psiquiatrico implicou na apresentação do louco como “perigoso” para a sociedade e da consequente atribuição de poder à figura do psiquiatra, que deveria manter sob controle essa ameaça.
- Os métodos da psiquiatria para a sondagem da loucura esbarravam no sentido de encontrar critérios seguros para se distinguir a loucura da simulação.
- A hipnose surge neste contexto, que ainda buscava um respaldo na anatomia (a ocorrencia de lesões anatomicas) que pudesse justificar os sintomas encontrados pelos psiquiatras.
- Charcot, psiquiatra que influenciou Freud em seus primeiros estudos sobre a histeria, a introduziu no campo das perturbações fisiológicas do sistema nervosa, e tentou simular estas alterações através da hipnose.
- A função da hipnose era de remeter o paciente ao seu passado de modo que ele encontrasse o fato traumatico que dera origem ao sintoma. As narrativas das pacientes histéricas sob hipnose traziam sistematicamente histórias de cunho sexual. Esse foi o ponto de partida para a investigação de Freud.
FORMULAÇÕES TEÓRICAS:
- Em A Interpretação dos Sonhos (1899), Freud parte da afirmação de que os sonhos possuem sentido, e de que são realizações de desejos. Sobre o sonho incidiria uma censura cujo efeito é uma “deformação onírica”, tornando seu conteúdo, quando lembrado pelo sujeito consciente, absurdo e carecendo de ser decifrado. O sonho manifesto, assim como os sintomas, são o efeito de uma distorção cuja causa é a censura.
- São características do sonho:
o Condensação: o conteúdo manifesto do sonho é sempre menor que o conteúdo latente. Um elemento no sonho pode estar representando vários outros elementos. Por exemplo, o sujeito poderia sonhar com uma só pessoa que tivesse ao mesmo tempo os trejeitos de outra, o nome que lembraria outra ou outra situação, e assim por diante;
o Deslocamento: quando um elemento latente é substituído por outro mais remoto, que faça ao mesmo apenas uma alusão, fazendo assim um descentramento da importância;
o Figuração: mecanismo pelo qual os pensamentos no sonho podem aparecer sob a forma de imagem.
o Símbolo: (uso do simbólico)Simbolo designa sempre uma relação de representação. Signos podem ser distinguidos em :
 Índice: quando mantém uma relaçao direta com o objeto que representa: ex: a rua está molhada e isso é sinal de que choveu
 Ícone: quando sua relação com o objeto representado é de semelhança: ex: o retrato e o retratado
 Símbolo: quando a representação é aleatória e não natural, como no caso das palavras. Não somente a linguagem como a cultura na sua totalidade são consideradas formas simbólicas.
- Metapsicologia em Interpretação dos Sonhos: Os Sistemas Inconsciente, Pré-Consciente, Consciente:

Os lugares estabelecidos por Freud para estas três instâncias não são lugares físicos, que teriam correspondência anatômica.
O aparelho psíquico é formado por sistemas quem mantêm entre si uma relação dinâmica, onde nossa atividade psíquica inicia-se a partir de estímulos (internos ou externos) e termina numa descarga motora.

O inconsciente é um reservatório de conteúdos carregados de excitação que se dirigem ao sistema pré-consciente/consciente. Nesse caminho, esses conteudos sofrem censura e são modificados ligando-se a pensamentos pertencentes ao pré-consciente/consciente, desta forma alcançando alguma realização. A material prima dos sonhos são pensamentos.

Os desejos provenientes do sistema inconsciente encontram-se em permanente disposição para uma expressão consciente, no que são impedidos pela censura. Esta, no entanto, pode ser burlada na medida em que o desejo inconsciente transfira sua intensidade para um impulse do consciente cujo conteúdo ideativo funcione apenas como indicador do desejo original. (GARCIA-ROZA, 1987)


Os desejos do Inconsciente e do Pré-consciente/Consciente não são os mesmos e nunca estão de acordo. A luta entre essas instâncias produz ansiedade.

- O Desamparo e a Experiência de Satisfação:
O desamparo do bebê é utilizado por Freud para conceituar a experiência de satisfação. O impulso originado pela necessidade gera tensão para ser satisfeito. O choro é respondido com o fornecimento do alimento. A experiência de satisfação da necessidade é acompanhada de uma percepção, que será armazenada como traço de memória que permanece associado à satisfação. Quando surge o mesmo estado de tensão produzido pela mesma necessidade, surge um impulso psíquico que procurará reevocar (lembrar) a experiência de satisfação, mas que se mostrará ineficaz para satisfazer a necessidade. A criança fará uma representação alucinatória da experiência de satisfação.
Daí a necessidade do aparelho psíquico de criar uma barreira para inibir essa experiencia alucinatória, que será a responsável pela formação do Ego.
O acúmulo de energia no sistema Ics resulta em desprazer fazendo sempre uma pressão no sentido da realização motora dessa energia. Enquanto o Ics luta para grantir a descarga da excitação acumulada, o Pcs/Cs procura desviar a excitação do Ics, alterando seu conteúdo de maneira a possibilitar uma satisfação indireta e parcial porém tolerada por ele.
O recalcamento é uma operação feita pelo sistema Pcs/Cs que visa voltar com o material do inconsciente para o mesmo. O que ocorre, é que o material recalcado exerce uma atração constant esobre os conteúdos do Pcs/Cs, em relação aos quais ele possa estabelecer uma ligação e conseguir satisfação. Esse material recalcado voltará sob a forma de sintoma, de sonhos, atos falhos e chistes.
Por isso dizemos que o sintoma é uma metáfora, ou seja, um substituto do desejo inconsciente recalcado, que funciona como uma forma de falar, ainda que de maneira imperfeita, desse desejo.


BIBLIOGRAFIA
GARCIA-ROZA. L.A. Freud e o Inconsciente: Rio de Janeiro – Jorge Zahar Editor, 1987.

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