Minha vida é movimento.



Dança. Compasso.



Canto.




Minha vida é passo.



Caminho, escuto, recordo.



Encontro e decanto.



Conflito, reflito e traço.



Minha vida é campo



onde lanço, arado.



Onde laço, espanto!



Onde tanto, escasso.



Onde espaço, encanto.



Onde espanto, abraço.







terça-feira, 23 de novembro de 2010

Carta para Tia Mirtes

Querida Tia Mirtes,

Um verdadeiro presente de final de ano essa história de nossa família contada por suas lentes!

Especialmente importante para mim, que estou empenhada na construção do meu genograma, visitando a história da minha vida gerada desde os meus tão queridos avós paternos e maternos. Por ele passarão, sem excessão, todos os tios e tias, primos, sobrinhos e cunhados...

É bem verdade que não conheci vovô Fernandez, e de vovô Artur não me lembro. Mas tenho vivas na memória vovó Maria Candida e vovó Maria Elisa: uma artista da alma, tão serena, tão doce como os docinhos de leite cortadinhos, todos iguais, em losangos.... E o cheiro do fogão de lenha, que insistia em funcionar, mesmo com outro a gás. E o sabor de seus quibes, e o cheiro do armarinho de barril, que até hoje me lembro. E a tesoura que destrinchava o frango nos almoços de família. E sua doce voz consolando as meninas num dia de carnaval que insistia em chover: "Névoa na serra, chuva na terra - névoa baixa é sol que racha!". E sua paciencia me ensinando alguns pontinhos de crochê.

A outra, artista da música. Sua casa para mim era piano tocando... Sua voz quase sumindo, mas os dedos cheios de energia fazendo sair do piano as notas de Bethoven e Bach. E seu casaco preto com gola e punho de pele, que agora, por herança, foi confiado a mim.

Guardo comigo um tesouro, que são as histórias contadas. De gente que nunca vi, como Tia Alice, tão viva em minha memória. A imagem dos índios que nunca visitei, mas com quem minha tia, corajosa desbravadora - assim eu contava com orgulho - vivia e de quem trazia objetos que me deixavam fascinada! Especialmente uma "armadilha" de colocar o dedo e quando se puxava: pronto! Estava preso pra sempre! E um pente de cabelos, e tantas coisas assim.

Lembranças: DeTia Anália as almofadas, de tia Lude, a elegância e a boutique tão cheirosa, de Tia Cordélia, a doçura, de tio Chico as risadas, de Tia Camo a sobriedade e aquela casa mágica onde quase morri de medo quando fui dormir lá com o Zé. A porta era muito grande, e o quarto era meio escuro... Acho que dei trabalho... De tio Almir, a farmácia! E a cura para minha alergia!
De tia Cecília, as hospedagens incontáveis, os carnavais de mesa posta, a segurança de ter a casa da minha tia pra chegar de toda aquela folia. De tio Duílio, o trabalho ao telefone. De tia Miriam, tão querida, os gatos, a vaidade, os lencinhos e... aprontar-se para o homem amado! De tia Martha, os comentários do dia! De tia Tereza, a alegria, de tio Antero laranjas serra dágua que ele mesmo descascava... De tio Marçal, figura ilustre e inteligente... exemplo de gente importante!

De meu pai e minha mãe, a certeza de ter família.

Assim vou eu, também tecendo, com os fios da história contada, e recontada por tantos, tal qual o rosário de vovó, a história da minha vida.

Obrigada. Que Deus abençoe você, todos os tios e tias, primos primeiros, primos segundos e outros mais, com saúde, Graça e muita paz!

Agradeço a Deus por ter nascido nesta família, que nos sobrenomes Fernandez e Versiani dos Anjos fez uma mistura feliz de carater, sonhos, amor, aconchego, direção, compaixão e amizade. Agradeço a todos vocês, que nos antecederam na história, e construíram esse maravilhoso legado.

Aproveito para desejar um Feliz Natal, cheio da renovação e do amor que há na presença de Jesus.

Um grande e saudoso abraço,

Tiza

sábado, 13 de novembro de 2010

Voando nos céus de um novo dia


“Mas como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam.” (1 Co 2:9)



“E disse Deus: Haja luz. E houve luz. Viu Deus que a luz era boa, e fez separação entre a luz e as trevas. E chamou Deus à luz dia, e às trevas, noite. E houve tarde e manhã – o primeiro dia.” (Gen 1:3-5)

O brilho da manhã que chega se irradia em luminosos feixes que fulguram mais em contraste com o céu ainda escurecido da noite. Junto com ele, pássaros vêm de toda parte deslizando seus corpos no espaço infinito.

Para quem está doente, as noites parecem não ter fim. A chegada do dia anuncia também o conforto da chegada do primeiro médico, da enfermeira, da medicação. Para quem não dorme, o dia raiando é alívio da longa e inquietante noite.

Para quem acordou mais cedo, o espetáculo. No silêncio dos começos, apenas o trinar de pássaros que louvam a Deus com o que têm. No céu vão bordando com seus próprios corpos a coreografia da vida pela manhã, e cantam. Suas vozes são diversas e incontáveis. Nos acordes harmoniosos que a natureza compõe, podemos sentir o coração do Criador pulsando, uma vez mais, no dia que se refaz.

Um novo dia. Um novo tempo. Tempo de fazer diferente o que ainda não foi feito, tempo de recomeço. A cada dia, a oportunidade. Com o surgimento da luz, a possibilidade de ver. E de separar. De escolher outro rumo, mudar. Tempo de criar asas e, como pássaro, voar pela imensidão azul, distanciar-se do burburinho cotidiano.

No alto céu, deleitar-se apenas na luz. Voar ao encontro dos feixes dourados e brincar com nuvens. Simplesmente ser. Em profunda gratidão, viver pelo propósito do Criador. Despir-se do que não é importante, despedir-se de muitas coisas. Partir para vôos mais altos, sem levar ouro, nem prata, nem cobre, nem alforje, nem túnicas, nem sandálias, nem bordão. (Mt 10:10)

Na noite da Cruz, o prenúncio do glorioso dia da Ressurreição. O novo dia: vitória da Luz sobre toda treva. “A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram sobre ela.” (Jo 1:5)

Confiados na Graça, aliançados no Espírito, apenas ser. Mas não o ser que desejamos. Ser o que foi desejado pelo Criador. No raiar de um novo dia, encontrá-Lo, e dizer:

Senhor, eis-me aqui. Dá-me tuas asas para voar contigo! Leva-me Senhor, a lugares que ainda não fui. Tira-me, Senhor, da escuridão de meus pensamentos e desejos e mostra-me, como Pai Amoroso, a minha verdadeira natureza em Ti. Faz-me brilhar como espelho da tua Luz, e dá-me capacidade de amar, verdadeiramente, quem És.

“E o que estava assentado no trono disse: Faço novas todas as coisas." (Ap 21:5)