Minha vida é movimento.



Dança. Compasso.



Canto.




Minha vida é passo.



Caminho, escuto, recordo.



Encontro e decanto.



Conflito, reflito e traço.



Minha vida é campo



onde lanço, arado.



Onde laço, espanto!



Onde tanto, escasso.



Onde espaço, encanto.



Onde espanto, abraço.







quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O TEMPO DE CHORAR




Como povo de Deus, nós freqüentemente rejeitamos a idéia da tristeza. Como se sentir tristeza, ou fracasso, ou decepção, fosse pecado. Esquecemos que o Senhor Deus nos criou com esse mundo de sentimentos dentro de nós, e a vontade Dele é sempre Boa, Perfeita e Agradável.

Então, não há razão para rejeitarmos tanto o deserto.

No deserto aprendemos.

No deserto nos encontramos com aquilo que existe de melhor e de pior em nós.

No deserto somos igualados ao outro, que, não importa se mais rico ou mais pobre, quando no deserto está sujeito às mesmas condições de todos os outros.

No deserto, sobretudo, somos consolados.

Deus habitou com seu povo no deserto. A festa dos tabernáculos era para lembrar que Deus havia feito seu povo habitar em tendas, lugares provisórios como esta vida, mas que ali também Ele habitava com eles, no tabernáculo que mandou construir e sobre o qual a sua Glória se manifestava.

Deus habitou no deserto. Ensinou com isso, que no lugar de passagem Ele também estaria com seu povo. Assim como nesta vida – lugar de passagem - Ele é Emanuel, Deus conosco.

A vida nesse mundo é lugar de provação. Temos algumas vitórias, mas a maior delas é que um dia estaremos livres de toda dor e sofrimento.

Enquanto sofremos, podemos sim chorar. Podemos sim assumir que apesar de sermos usados por Deus, as nossas vidas não são perfeitas. Somos vasos imperfeitos usados por um Espírito Perfeito. E aí reside a Glória Dele.

Queridos irmãos, as dificuldades com filhos, com trabalho, nos relacionamentos conjugais, e também aquelas que temos conosco mesmos são inerentes à nossa passagem por aqui. Digo passagem, porque é provisória a nossa estadia. Um dia nos despediremos daqueles que amamos, da vida que construímos, e seremos transportados para uma outra realidade, que ainda não conhecemos.

O tempo de recolhimento da alma pode produzir crescimento. O bambu chinês passa cinco anos crescendo para dentro da terra até que desponte para a superfície. Podemos aprender com ele a crescer também, internamente. A terra úmida e escura faz crescer raízes fortes, que garantem a consistência da vida manifesta.

O tempo do silêncio comumente rejeitado pode nos levar a reconhecer e assumir nosso lugar no mundo, na família, na igreja, nesta vida.

Portanto, seja-nos permitido desfrutar também do tempo em que a alegria não é aparente, mas em que estamos sendo trabalhados por Deus para fortalecer nossas raízes e, então, florescermos e darmos bons frutos.

Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz. (Ec 3: 1-8)

sábado, 26 de novembro de 2011

Águas Vivas





Da minha janela vejo um lago. Não é grande, nem profundo. Suas águas são calmas e escuras. Algumas garças pousam por lá de vez em quando. Há também uma família de patinhos que o visita de tempos em tempos.

No último mês, o lago que avisto mudou. Foi infestado por uma planta daninha, comumente chamada de Água Pés. Toda a superfície da água foi coberta por essa planta aquática, que se reproduz com muita rapidez e é capaz de entupir corpos de água. Sua massa diminui a capacidade de oxigenação da água matando os outros seres que vivem nela.

Quando olho de minha janela, vejo agora uma paisagem semelhante a um campo gramado. Penso mesmo que um motorista desavisado corre o risco de seguir com o carro sem perceber que o tal gramado na verdade é um lago coberto. A fauna que habita o lago está morrendo. A cada manhã, parece ter aumentado a infestação de água pés.

A visão das águas infestadas por uma praga me lembra águas mortas, e, por oposição, águas vivas. Vou ao Evangelho:

No Evangelho de João, encontro-me com o Senhor Jesus vivendo o tempo da Festa dos Tabernáculos. Suas palavras e atos eram contestados por muitos, aceitos por outros, e causavam dúvida, temor e indignação. Falava-se Dele. Buscava-se evidências se Ele seria o messias ou apenas um profeta. E, diz a Bíblia, que no último dia da festa Ele se levantou:

E no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba.
Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre.
João 7:37-38


A Festa dos Tabernáculos foi instituída por Deus para que o povo de Israel se lembrasse de que Deus os havia feito habitar e tendas, em sua passagem pelo deserto. No deserto, também o Senhor habitou com seu povo, no Tabernáculo que abrigava a Arca da Aliança, e onde eram oferecidos os sacrifícios a Ele. Era costume que nessa festa, no último dia, o sacerdote derramasse água no altar do Templo, simbolizando o derramar de águas da chuva que Deus enviaria para a próxima colheita.

Conta o evangelho que neste último dia da festa o Senhor Jesus se apresenta, de pé, como fonte de águas vivas.

Chegamos ao final de 2011. A festa do Natal se aproxima. Simboliza um derramar de amor, paz, reconciliação em todos os cantos da terra onde já se ouviu falar de Jesus. Muitos de nós, no entanto, nem se lembram mesmo o que se comemora. Festas são memoriais, e memoriais servem para nos lembrar de coisas importantes, significativas.
No Natal, a figura do “bom velhinho” e suas renas substituiu com muitas luzes piscantes a memória da vinda do Senhor para o nosso meio.

Assim como na Festa dos Tabernáculos a intenção era fazer lembrar ao povo que Deus habitou no meio dele, também no Natal é preciso lembrar. É preciso encontrar o sentido da festa que fazemos. E o sentido está em que Deus, que outrora habitou em um tabernáculo no deserto, veio ao mundo em carne e osso, e habitou entre nós. O sentido está em anunciá-lo como EMANUEL – DEUS CONOSCO.

A partir de Cristo, Deus não é mais alguém distante, cujo acesso estava restrito aos sacerdotes. A vinda de Jesus Cristo inaugurou a passagem para um relacionamento íntimo e próximo com Deus:

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade. (João 1:1;14)

Deus veio até nós, e pela vida, morte e ressurreição de Jesus escreveu para nós sua mensagem de amor em letras garrafais:

EU VIM PARA QUE TENHAM VIDA E A TENHAM COM ABUNDÂNCIA. (Joao 10:10)

Dezembro chegou. A festa está prestes a começar. Talvez estejamos como o lago que vejo de minha janela: onde havia água boa, onde havia vida, a superfície está tomada por água pés. As águas se tornaram mal cheirosas e inúteis. Não há oxigênio e os peixes que outrora viviam ali estão morrendo. A água não dá seus frutos. Talvez estejamos como água morta.

Apesar de todo o barulho do “bom velhinho” e suas renas voadoras, a voz de Cristo se levanta, no meio da festa e anuncia: SE ALGUÉM TEM SEDE VENHA A MIM E BEBA!

Jesus Cristo é aquele que tem poder para renovar as águas, removendo toda a impureza que as cobrem. Ele é a fonte das águas. Ele é a razão da festa.

Aproveite a festa para beber Dele. Porque Ele diz:

Aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.
João 4:14


E tenha um Natal cheio do amor e do renovo de Cristo em seu coração!

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Pizza de Graça

Embora já esteja subindo a colina dos “enta”, os dias que antecedem meu aniversário são sempre especiais. A criança em mim desperta em expectativas doces e lembranças de bolo, velas e parabéns.

Celebrar aniversários é comemorar a dádiva da vida! Afinal, se cheguei até aqui e porque muitos milagres aconteceram. O milagre de ter sido gerada, única, no ventre da minha mãe. O milagre de muitos livramentos, que me permitiram viver todos esses anos. O milagre do crescimento forte, saudável. Viver é um milagre! Não é incrível que as minhas impressões digitais sejam diferentes de qualquer outro ser humano? Isso me lembra que as marcas que as minhas mãos farão no barro deste mundo serão feitas somente por elas, o que me torna ainda mais responsável pelas escolhas que faço pelo caminho... Mas isso é uma outra história.

O fato que quero contar é este:

Dia desses, recebo um telefonema desinteressado de uma amiga convidando para comermos uma pizza. Ah, me pegou de surpresa, o caixa anda baixo, penso que não posso ir. Então ela me tranqüiliza e diz: “ –Não se preocupe, eu tenho um crédito na pizzaria, vamos.”

Com um certo constrangimento, aceitei. Rumamos então, no dia marcado, para o restaurante. Chegando lá, surpresa! A coisa era combinada, e havia uma “cúmplice” me esperando com um lindo bolo e velas incandescentes, verdadeiros fogos de artifício!

Ah, que delícia! A criança em mim batia palmas e se alegrava. Olhei por alguns segundos maravilhada, para o singelo bolo cor de rosa e suas velas esfuziantes. Seguiram-se pizza, refrigerantes, batatas fritas, risadas, confidências... Momentos maravilhosos que não têm preço.

Opa, não têm preço? Mas como assim? Meu coração começava a ficar apertado, ia chegando a hora da conta. Eu realmente estava desprevenida e nós havíamos nos divertido muito e comido bastante. Como eu não ajudaria a pagar? Quando o garçom chegou com a conta, disfarçadamente dei uma olhada no valor. Tinha ficado caro. De imediato saquei o que tinha na carteira e comecei um embate com minhas anfitriãs: não era justo que pagassem tudo, eu também deveria ajudar, e tome esta nota, e etc, etc,...

Para acabar com a cena, minha amiga olhou-me nos olhos, amorosamente e disse:
“-Querida, para você queremos o melhor, e nós já pagamos.”

Era tudo mesmo de graça para mim.

Em tudo isso o Espírito Santo de Deus me ensinava:

O que é a Graça de Deus dispensada sobre nós, senão isto? Quem de nós poderia pagar a conta da queda espiritual da humanidade? Nossos recursos são sempre parcos diante do preço das nossas vidas. Estamos sempre desprevenidos.

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”(Jo 3:16)

Ele pagou a conta. Ele podia pagar. Ele é Todo-Poderoso. Ele não contava com os meus trocadinhos. Nem com os seus. Ele é o dono do banco. Ele é Amor.

Ele me ama, e de presente me diz:

- Filha, toma a tua vida eterna. Eu te dou, porque te amo. Você não mereceu. Você não podia pagar. Eu já paguei para você. Agora venha, coma e beba comigo. E se alegre, se regozije no meu amor. Porque o Amor, filha, sou Eu.

“Amai-vos ardentemente uns aos outros de coração, tendo sido regenerados, não de semente corruptível, mas de incorruptível, pela Palavra de Deus, a qual vive e é permanente.
Pois: Toda a carne é como a erva, e toda a glória do homem como a flor da erva. Seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a Palavra do Senhor permanece para sempre. (1 Pe 1: 22-24)

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

CHAMADOS PARA QUÊ?



Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei.
E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção.(Gn 12:1-2)


CHAMADOS PARA QUÊ?
Maria Beatriz Versiani

Estou convencida de que se a Bíblia ainda estivesse sendo escrita a minha história estaria por lá. Não porque eu seja alguém cuja história mereça registro, mas porque a Bíblia está repleta de histórias de gente, assim, como eu e você. Talvez eu fosse apenas mais uma na multidão que seguia Jesus, e ainda assim estaria lá, testemunhando Seu Ministério. Talvez eu fosse alguém como Marta, como Zaqueu, como Raabe.

O fato é que a cada tempo de minha vida sou levada a olhar-me no espelho bíblico. Ali, vejo-me estampada nas multifacetadas histórias de pessoas que se deixaram levar pela fé, se permitiram caminhar em desconhecidas e estreitas veredas. Hoje, pela manhã, vejo-me refletida em Abrão.

Abrão, futuro Abraão. O pai da fé. Alguém que nos ensina com sua história o que significa ter fé. Num dado momento de sua existência, já maduro, Deus, o Senhor, o chama. E oferece a ele trocar a estabilidade do conhecido por uma aventura rumo a um lugar que ele não conhece.

Como fez com Abrão, o Senhor também nos chama em alguns momentos: Sai do seu conforto, do que você já conhece e vai para um lugar que você ainda não sabe, mas eu te mostrarei... Ah! Quanta fé se exige nesse pedido!
É incrível como podemos nos apegar com facilidade a objetos, pessoas e situações. E surpreendente como fazemos destes nossos postes-ídolos. Ficamos presos, circulando em torno deles.

Winnicott, psicanalista de crianças, já nos falava dos objetos transicionais. A pequena criança, tomada pelo desamparo causado por sua separação da mãe, trata de eleger um objeto, que passa a funcionar como substituto simbólico da ausência da mãe, e com o qual ela se consola e conforta. Daí que vemos os pequenos andando pela casa arrastando um cobertorzinho que nunca pode ser lavado, ou uma boneca encardida e puxada pelos cabelos, ou uma chupeta que serve para cheirar na hora de dormir. Quem se lembra do Linus, personagem das tirinhas de Shultz, que nunca se separava de seu cobertorzinho? O objeto transicional funciona para aplacar a ansiedade da criança de sentir-se só. Como está sempre ao alcance das suas mãos, o objeto falseia o pavor causado pela falta. É esperado, no entanto, que o objeto transicional seja gradativamente desinvestido do afeto da criança, para que ela possa investir esse afeto em outras áreas, e, assim, cresça.

Se a criança resiste em deixar os objetos transicionais, haja negociação e choro em casa. Que pai ou mãe não teve que agüentar noites e noites de choro por ter convencido o pequeno a jogar a chupeta no telhado?

Pois bem, somos assim. Criamos raízes com facilidade, porque necessitamos estar referidos por um mediador nas nossas relações. Daí que nos apegamos ao lugar onde vivemos, à empresa em que trabalhamos, aos bens que conseguimos amealhar. Andamos colados a eles, sem perceber que são objetos, que jamais poderão substituir a Presença Daquele que nos gerou.

Mas há sempre dias em que Ele, vendo que precisamos crescer, nos chama. Como fez com Abrão, faz também comigo e com você, caro leitor.
O Senhor diz: sai do lugar do seu conforto, do seu mundo conhecido, e vai para um lugar que eu te mostrarei. Esse convite desestabiliza. Como Pai amoroso, Ele tira nosso apoio para que possamos nos mover.

O resultado do convite feito à Abrão se traduz em verbo, em ação. Nos versos seguintes no capítulo 12 de Genesis diz-se que Abrão partiu, saiu, moveu-se.
Em meio à sua peregrinação, Abrão aprende que seu único lugar de apego deve ser o altar edificado ao Senhor. Ele edifica altares ao Senhor, e invoca o Seu Nome. Destituído de seus lugares de apoio, Abrão clama pelo Pai, o que o gerou.
Hoje, pela manhã, cinco horas. Pressinto um tempo de desapegar-me. Precisarei deixar meu cobertorzinho, meu ursinho de pelúcia, minha chupeta. Meu Pai está me chamando para crescer. Ele me estende as mãos, olha para mim, e me diz para ir a Ele, confiante.

Eu, criança maravilhada pela presença do Pai, deixo cair o objeto. E vou, em direção a Ele, pela fé. Meu andar não tem a segurança dos que já cresceram. Mas estou bem certa de que Ele virá a mim se eu der os primeiros passos. Por isso, edifico um altar, e invoco o Seu Nome:

- Pai, paizinho, toma-me pela mão e guia-me pelos caminhos que ainda não vi, mas que tu já conheces. Irei contigo, porque confio em Ti.

sábado, 14 de maio de 2011

Familia e a Formação da Identidade - Aprendendo com o Patinho Feio

A fábula de Hans Cristian Andersen, o Patinho Feio, nos coloca diante de questões que remetem à história familiar: o sonho do filho perfeito, a ansiedade da espera, o reconhecimento e a legitimação do olhar da mãe sobre a identidade e o lugar de um filho na familia. A ferida narcísica, o enfrentamento do casal diante do filho problema, o esforço da mãe para adequá-lo e o consequente abandono frente à pressão social que se faz em torno da diferença apontada pela aparência do patinho. Como diz o ditado: Filho feio não tem mãe.

Daí, partimos para uma viagem em busca da identidade daquele que foi rejeitado. Aventurando-se pelas mais diversas tribos, vai o patinho feio em sua busca de saber de si.Adere a outros grupos, e é sempre inadequado. Finalmente, para sua sorte e salvação, encontra um grupo de semelhantes generoso o suficiente para acolhê-lo e ampará-lo em seu crescimento e devir.

O relato bíblico nos traz, na cosmogonia judaico-cristã, o que se segue:


“ Então disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastam sobre a terra.
Assim Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou.
Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra, e sujeitai-a”. (Gn 1:27-28)

No livro dos começos, o Genesis, nos é dado conhecer como Deus criou nosso planeta e tudo o que nele existe. Podemos aprender sobre o sonho de Deus para sua criação, e como tudo foi sendo feito e nomeado por Ele. Homem e Mulher, disse Ele, feitos à sua imagem e semelhança.

Vai dentro de nós, não uma programação rígida, inequívoca, mas um mapa. Mapa onde podemos encontrar a marca referencial de quem somos, e a nossa direção.

Deus criou homem e mulher, disse para se unirem, crescerem,frutificarem. Deu a esta entidade casal o poder de, com Ele, gerar uma família. E deu ao par fundamental a tarefa de perpetuar a base para formação da identidade daqueles que viriam depois.

Para tanto, os abençoou, a partir de um lugar de poder e autoridade. Esta autoridade, foi, pela bênção do Supremo Criador, repassada ao primeiro homem. Diz a Bíblia: "Macho e fêmea os criou; e os abençoou, e chamou o seu nome Adão, no dia em que foram criados. E Adão viveu cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme à sua imagem, e chamou o seu nome Sete." (Gn 5:2-3)

Deus dá nome a Adão. Adão dá nome a Sete. E vamos ao longo de milênios nomeando nossos filhos. Com os nomes, imprimimos neles também nosso legado, a herança que passamos adiante. A identidade de um filho começa a ser forjada naquilo que ele é falado e se legitima no seio da família.

Um bebê que chega é falado, antes que fale. É nomeado, tem lugar na casa. Ou não. O não reconhecimento do filho, a não legitimação da sua individualidade, pode reproduzir a história do patinho feio, condenado a andar por aí perguntando, afinal, quem ele é.

Há uma ordem que nos torna capazes de nomear nossos filhos. Esta parte do fato de termos nós mesmos recebido um nome, e sermos reconhecidos por ele, e nos reconhecermos nele.Na medida em que nos integramos ao nosso nome e sobrenome, tomamos o nosso lugar na história.

Podemos então, de um lugar reconhecido, seguro, frutificar e nomear. Nossos filhos poderão reconhecer em nós a segurança dos nomes que recebem, e, confiantes, partirem para sua jornada, não mais em busca de perguntarem a todos quem são, mas de re-significarem o nome e o legado que receberam de nós.

Eu Sou o que Sou, diz o Senhor Deus. Ele Se nomeia, com segurança. Olhando para Ele, podemos seguir confiantes e criativos a nossa trajetória.

Não, nós não somos pequenos deuses. Mas como Seus filhos, podemos olhar para Ele e prosseguirmos adiante. Assim, façamos à semelhança Dele. Nossos filhos não são a reprodução de nós mesmos. Mas devem poder olhar para nós, à medida em que constroem seus próprios caminhos, com a segurança de que a imagem e o legado que transmitimos, seguirão com eles para sempre.

A história do Patinho Feio poderia ter sido diferente. Talvez ele tivesse sido um filho muito interessante naquela família de patos. Na convivencia com ele, seus pais e irmãos poderiam ter aprendido coisas que não sabiam... Talvez ele pudesse ter sido chamado por outro nome, menos depreciativo. Mas essa não seria a mesma história... Quem quiser, que conte outra!

sexta-feira, 1 de abril de 2011

PAI, MÃE, CONSOLADOR





- Aiiii! Manhêêê!!!
A mãe larga o almoço no fogo e sai correndo em busca da filha:
- O que foi dessa vez menina?
- Mãe, cortei meu dedo, olha! - E lá vem a menina segurando o dedo mindinho como se fosse cair da mão.

A mãe examina com cuidado e lupa o cortezinho minúsculo que nem sequer está sangrando. Sopra, dá um beijinho, afaga a cabeça da menina de 9 anos, que agora está crescendo muito e vive trombando nas paredes e portas. A menina sai correndo – reconhecida em sua dor – e já nem se lembra mais o porque de tanto grito!

As mães são assim: consoladoras. Quando nos machucamos, cá estão elas, prontas para lavar o machucado: - Vai doer, mas tem que lavar, senão infecciona. O coração delas arde enquanto, fingindo calma, parecem não ligar para nossa dor.

O coração delas queima quando não temos amigos na escola, quando fracassamos na prova de geografia, quando, na adolescência, ensaiamos nossos primeiros passos nas pistas do amor... E pode mesmo se rasgar quando num belo almoço de domingo entramos em casa com um príncipe encantado . Em seu olhar maternal, antevêem o Sapo, e todos os sapos que provavelmente nos ajudarão a engolir enquanto trocam as fronhas de nossos travesseiros encharcados .

As mães não dormem. Por causa do choro do bebê, por causa da pesquisa de escola, ou aguardando nas madrugadas a chegada do filho pródigo. E quando ele chega, podem até mesmo fingir alguma indiferença para afinal não deixá-los pensarem-se assim tão importantes.

Descanso de mãe madura? Cuidar dos netos! E dá-lhe menino pulando e subindo, e televisão, e chocolate, e mexida na cozinha... Assim são as mães da minha memória.

Dia desses acordei pensando nisto, e talvez por ver já próximo o dia das mães, tive um daqueles pensamentos malucos que de repente acendem uma luzinha na cabeça: NÃO É QUE O DEUS QUE CONHEÇO SE PARECE MUITÍSSIMO COM UMA MÃE? DEUS É MÃE!!!! AHNN??? DEUS É MÃE?

Espantada com o que sou capaz de pensar, corro para a Bíblia para fugir desta heresia, e encontro assim:

“Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo de suas asas, mas vocês não quiseram.” (Mateus 23:37)

“Pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti”. (Isaias 49:15)

“Não é Efraim para mim um filho precioso, criança das minhas delícias? Porque depois que falo contra ele, ainda me lembro dele solicitamente; por isso me comovem por ele as minhas entranhas; deveras me compadecerei dele, diz o Senhor”.(Jr 31:20)


Quanta ternura de mãe nestas palavras. Deus é Deus. É Pai, é Filho e é Espírito Santo. Mas um de seus nomes, El Shaday, nos convida a adorá-lo em sua face de Todo-Poderoso, e também daquele que nutre, que amamenta. Em hebraico: El=Deus, Shadd= seios. A terra prometida para onde Israel é conduzido por Ele, é terra que mana leite e mel.

O seio é o primeiro objeto que a criança busca no corpo da mãe. Ele garante a vida, a sobrevivência, mas também o prazer e o aconchego. Assim é El Shaday: Aquele que é Todo-Poderoso, completo, que nutre, que cobre com suas asas, como vemos no Salmo 91.

É por isto que no mês da mães, usufruindo da presença do Deus que é Pai e também mãe, nutridor e consolador, posso dizer, com o salmista:

“Senhor, o meu coração não é soberbo
nem os meus olhos são altivos;
não me ocupo de assuntos grandes e maravilhosos demais para mim.
Pelo contrário, tenho feito acalmar e sossegar a minha alma;
qual criança desmamada sobre o seio de sua mãe,
qual criança desmamada está a minha alma para comigo.
Espera, ó Israel, no Senhor, desde agora e para sempre.” (Salmo 131)

quarta-feira, 23 de março de 2011

EU SOU DO MEU AMADO E O MEU AMADO É MEU

“Ouço a voz do meu amado; ei-lo que vem saltando sobre os montes, pulando sobre os outeiros. O meu amado é semelhante ao gamo, ou ao filho da gazela.
Olhai, ele está detrás da nossa parede, olhando pelas janelas, lançando os olhos pelas grades.
O meu amado fala e me diz:
Levanta-te amada minha, e vem. Vê! Já passou o inverno; e as chuvas já cessaram, e se foram. Aparecem as flores na terra; o tempo de cantar chegou, e a voz das rolas ouve-se em nossa terra. A figueira já deu os seus figos, e as vides em flor exalam o seu aroma.
Levanta-te amada minha, formosa minha e vem.
Pomba minha, que andas pelas fendas das penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face, faze-me ouvir a tua voz, pois a tua voz é doce, e o teu rosto formoso.
Apanhai-me as raposinhas, que fazem mal às vinhas, as nossas vinhas que estão em flor.
O meu amado é meu, e eu sou dele.”
(Ct: 2: 8-16 a)


Que doce é a voz do meu amado! Pode ser como a voz de muitas águas, ou um sussurro que somente eu consigo ouvir. Semelhante ao grito dos apaixonados, que escrevem os nomes de suas amadas nas pedras, em faixas e gritam o seu amor em praça pública, ou aos bilhetes secretos e cartas de amor seladas.

Que delícia é o seu convite: - Vem querida minha e vê, existem flores, é tempo de cantar, os aromas são suaves e o meu jardim te espera em perfume e flor. Vem comer comigo os figos, e as uvas que tenho plantado para ti!

O meu amado quer me ver, ele ama o meu rosto e a minha voz. O meu amado não se cansa de ver a minha face. O meu amado quer ouvir a minha voz, ah! Ele diz que favos de mel manam dos meus lábios! Doce é para Ele ouvir as palavras de amor que fluem da minha boca.

O meu amado desceu aos seus jardins, para se alimentar e para colher os lírios. Os jardins do meu amado são a Terra inteira, a Terra é o estrado dos seus pés. Os lírios são flores preciosas, semelhantes ao Lírio dos Vales... eu sou como o lírio, semelhante a Ele. Ele saiu do Seu trono, e desceu aos Seus jardins, para colher-me, e levar-me com Ele.

O Nome do meu amado é como ungüento derramado. Ele não mediu esforços para vir ter comigo. Comprou para mim vida abundante e eterna, com preço mais alto que todo ouro e prata do mundo. O meu amado me comprou com o seu próprio sangue, que derramou publicamente, por mim. Escreveu com o seu sangue o meu nome, e gravou sua carta de amor em meu coração.

Chamou-me jardim fechado e fonte selada. Assim me guardou, para que eu fosse fonte dos jardins, poço das águas vivas.

Eu sou do meu amado, e Ele me tem afeição. Assim Ele descreve o Seu amor:
“As muitas águas não poderiam apagar este amor, nem os rios afogá-lo. Ainda que alguém desse todos os bens da sua casa por este amor, seria de todo desprezado. “

O amor com que Ele me ama é perene e indestrutível. E Ele me convida a aceitar sua aliança, como sinal de que sou Dele:

“Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço.”

O meu amado é fiel, a sua fidelidade e o seu amor jamais serão destruídos. Ainda que eu tentasse me esconder dEle, Ele me veria, pois Ele é aquele que olha por detrás de minhas paredes, pelas grades que construí ao longo da vida. Ele me sempre vê. Ele espera por mim a cada manhã, para que nos Seus jardins eu dê a Ele o meu amor.

Você já descobriu, quem é o meu amado?

O Seu nome é Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade e Príncipe da Paz.

O nome do meu amado é JESUS DE NAZARÉ.

(Trechos bíblicos extraídos do Livro de Cantares)

sábado, 12 de fevereiro de 2011

´Pérolas

Pérola de José Saramago:

"Se tens um coração de ferro, bom proveito.
O meu fizeram-no de carne e sangra todo dia."


(José Saramago)

Reconciliados para ministrar a Reconciliação

Quem já provou o sabor doce-úmido do caqui? E o cheiro adocicado do manacá? E a brisa do mar na virada do dia?
Como descrever, em palavras, sensações tão particulares? Seria possível a alguém que nunca tenha provado uma jabuticaba, descrevê-la –“ ploct-pluft “- do delicioso explodir da fruta na boca, até o cuspir do caroço?

Nosso Mestre nos dizia, em Lucas 6:

"Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois no buraco?
O discípulo não está acima do seu mestre, mas todo aquele que for bem preparado será como o seu mestre.
"Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho?
Como você pode dizer ao seu irmão: ‘Irmão, deixe-me tirar o cisco do seu olho’, se você mesmo não consegue ver a viga que está em seu próprio olho? Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão".
"Nenhuma árvore boa dá fruto ruim, nenhuma árvore ruim dá fruto bom.
Toda árvore é reconhecida por seus frutos. Ninguém colhe figos de espinheiros, nem uvas de ervas daninhas.
O homem bom tira coisas boas do bom tesouro que está em seu coração, e o homem mau tira coisas más do mal que está em seu coração, porque a sua boca fala do que está cheio o coração".


Somos chamados à reconciliação. Reconciliarmo-nos com o Senhor, para então ministrarmos a reconciliação. No caminho, no correr dos dias, vão se acumulando poeira e cisco em nossos olhos. Mas prosseguimos, entendendo que não há tempo, a messe é grande, são poucos os trabalhadores. Precisamos prosseguir, muitas vezes sem separarmos tempo de lavar os nossos olhos.

Saímos então anunciando uma palavra: Evangelho – Boas Novas. A boa notícia de que em Jesus, não mais pelas nossas obras, mas por Sua misericórdia, somos reconciliados com Deus. A notícia de que nEle nossos pecados são, definitivamente, perdoados.

Anunciamos o Evangelho, enquanto caminhamos pesados, arrastando nosso fardo recheado de culpas, pecados não confessados, questões que deixamos pra depois. A dura realidade sobre nós mesmos permanece encoberta, enquanto nos ocupamos do ideal que o Evangelho traz para a vida do outro.

- Não, não para a minha vida. Eu sei que os caquis podem ser deliciosos, mas não para mim. Afinal, poderia deliciar-me com eles. E isto não combina com meu fardo.
Fardo que o Mestre convida a lançar sobre Ele, mas que já é tão meu... afinal, são as minhas velhas e conhecidas dores, aqueles medos tão familiares, o pecado que repito e tão de perto me acompanha...

Ah! Quanto perdemos! Oferecemos à multidão uma mesa farta, da qual nos abstemos de comer: a mesa da reconciliação. Como seria bom se pudéssemos, realmente, crer que o convite do Senhor é para nós também. Um convite para lançarmos sobre Ele toda dor, toda inconstância, toda impotência, toda humanidade.

Ele não nos convida a nos tornarmos SUPER. Ele nos convida a sermos humildes e necessitados da Sua Graça. Ele nos convida a provarmos a mesa farta que Ele mesmo preparou, por causa do seu AMOR.

Vejamos o que o Mestre nos ensina em Mateus 22:

"O Reino dos céus é como um rei que preparou um banquete de casamento para seu filho.
Enviou seus servos aos que tinham sido convidados para o banquete, dizendo-lhes que viessem; mas eles não quiseram vir.
"De novo enviou outros servos e disse: ‘Digam aos que foram convidados que preparei meu banquete: meus bois e meus novilhos gordos foram abatidos, e tudo está preparado. Venham para o banquete de casamento! ’
"Mas eles não lhes deram atenção e saíram, um para o seu campo, outro para os seus negócios.”


O banquete está posto. Mas nós ainda pensamos que precisamos merecer estar lá. E saímos a trabalhar. O Rei descreve o seu banquete e convida: O tempo da reconciliação é chegado.

Como poderemos convidar alguém para a festa, se nem ao menos conhecemos o anfitrião? Como poderemos descrever as maravilhas da sua comida e bebida, se nos privamos deste encontro?

Somos chamados a ministrar as novas da reconciliação, da aliança refeita. Isto exige de nós, antes, experimentá-la.

Experimente lançar o seu fardo aos pés do Mestre. Experimente desapegar-se de culpas e dores, e confiantemente entregá-las. Ele virá com um banquete, tomando o lugar que lhe cabe. Ele virá até você, para curar o que você julga incurável, para tratar o que você julga perdido, para sarar o que você sabe doente.

As nossas limitações não são maiores do que o Senhor. Ele nos convida a olharmos para dentro, através da Luz que Ele mesmo é, com compaixão, misericórdia, e amor.

Aí então, tendo provado das delícias da reconciliação, poderemos dizer: Eu era cego, e agora vejo, eu era morto, e agora vivo!