Minha vida é movimento.



Dança. Compasso.



Canto.




Minha vida é passo.



Caminho, escuto, recordo.



Encontro e decanto.



Conflito, reflito e traço.



Minha vida é campo



onde lanço, arado.



Onde laço, espanto!



Onde tanto, escasso.



Onde espaço, encanto.



Onde espanto, abraço.







quinta-feira, 29 de setembro de 2011

CHAMADOS PARA QUÊ?



Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei.
E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção.(Gn 12:1-2)


CHAMADOS PARA QUÊ?
Maria Beatriz Versiani

Estou convencida de que se a Bíblia ainda estivesse sendo escrita a minha história estaria por lá. Não porque eu seja alguém cuja história mereça registro, mas porque a Bíblia está repleta de histórias de gente, assim, como eu e você. Talvez eu fosse apenas mais uma na multidão que seguia Jesus, e ainda assim estaria lá, testemunhando Seu Ministério. Talvez eu fosse alguém como Marta, como Zaqueu, como Raabe.

O fato é que a cada tempo de minha vida sou levada a olhar-me no espelho bíblico. Ali, vejo-me estampada nas multifacetadas histórias de pessoas que se deixaram levar pela fé, se permitiram caminhar em desconhecidas e estreitas veredas. Hoje, pela manhã, vejo-me refletida em Abrão.

Abrão, futuro Abraão. O pai da fé. Alguém que nos ensina com sua história o que significa ter fé. Num dado momento de sua existência, já maduro, Deus, o Senhor, o chama. E oferece a ele trocar a estabilidade do conhecido por uma aventura rumo a um lugar que ele não conhece.

Como fez com Abrão, o Senhor também nos chama em alguns momentos: Sai do seu conforto, do que você já conhece e vai para um lugar que você ainda não sabe, mas eu te mostrarei... Ah! Quanta fé se exige nesse pedido!
É incrível como podemos nos apegar com facilidade a objetos, pessoas e situações. E surpreendente como fazemos destes nossos postes-ídolos. Ficamos presos, circulando em torno deles.

Winnicott, psicanalista de crianças, já nos falava dos objetos transicionais. A pequena criança, tomada pelo desamparo causado por sua separação da mãe, trata de eleger um objeto, que passa a funcionar como substituto simbólico da ausência da mãe, e com o qual ela se consola e conforta. Daí que vemos os pequenos andando pela casa arrastando um cobertorzinho que nunca pode ser lavado, ou uma boneca encardida e puxada pelos cabelos, ou uma chupeta que serve para cheirar na hora de dormir. Quem se lembra do Linus, personagem das tirinhas de Shultz, que nunca se separava de seu cobertorzinho? O objeto transicional funciona para aplacar a ansiedade da criança de sentir-se só. Como está sempre ao alcance das suas mãos, o objeto falseia o pavor causado pela falta. É esperado, no entanto, que o objeto transicional seja gradativamente desinvestido do afeto da criança, para que ela possa investir esse afeto em outras áreas, e, assim, cresça.

Se a criança resiste em deixar os objetos transicionais, haja negociação e choro em casa. Que pai ou mãe não teve que agüentar noites e noites de choro por ter convencido o pequeno a jogar a chupeta no telhado?

Pois bem, somos assim. Criamos raízes com facilidade, porque necessitamos estar referidos por um mediador nas nossas relações. Daí que nos apegamos ao lugar onde vivemos, à empresa em que trabalhamos, aos bens que conseguimos amealhar. Andamos colados a eles, sem perceber que são objetos, que jamais poderão substituir a Presença Daquele que nos gerou.

Mas há sempre dias em que Ele, vendo que precisamos crescer, nos chama. Como fez com Abrão, faz também comigo e com você, caro leitor.
O Senhor diz: sai do lugar do seu conforto, do seu mundo conhecido, e vai para um lugar que eu te mostrarei. Esse convite desestabiliza. Como Pai amoroso, Ele tira nosso apoio para que possamos nos mover.

O resultado do convite feito à Abrão se traduz em verbo, em ação. Nos versos seguintes no capítulo 12 de Genesis diz-se que Abrão partiu, saiu, moveu-se.
Em meio à sua peregrinação, Abrão aprende que seu único lugar de apego deve ser o altar edificado ao Senhor. Ele edifica altares ao Senhor, e invoca o Seu Nome. Destituído de seus lugares de apoio, Abrão clama pelo Pai, o que o gerou.
Hoje, pela manhã, cinco horas. Pressinto um tempo de desapegar-me. Precisarei deixar meu cobertorzinho, meu ursinho de pelúcia, minha chupeta. Meu Pai está me chamando para crescer. Ele me estende as mãos, olha para mim, e me diz para ir a Ele, confiante.

Eu, criança maravilhada pela presença do Pai, deixo cair o objeto. E vou, em direção a Ele, pela fé. Meu andar não tem a segurança dos que já cresceram. Mas estou bem certa de que Ele virá a mim se eu der os primeiros passos. Por isso, edifico um altar, e invoco o Seu Nome:

- Pai, paizinho, toma-me pela mão e guia-me pelos caminhos que ainda não vi, mas que tu já conheces. Irei contigo, porque confio em Ti.