Minha vida é movimento.



Dança. Compasso.



Canto.




Minha vida é passo.



Caminho, escuto, recordo.



Encontro e decanto.



Conflito, reflito e traço.



Minha vida é campo



onde lanço, arado.



Onde laço, espanto!



Onde tanto, escasso.



Onde espaço, encanto.



Onde espanto, abraço.







sábado, 14 de maio de 2011

Familia e a Formação da Identidade - Aprendendo com o Patinho Feio

A fábula de Hans Cristian Andersen, o Patinho Feio, nos coloca diante de questões que remetem à história familiar: o sonho do filho perfeito, a ansiedade da espera, o reconhecimento e a legitimação do olhar da mãe sobre a identidade e o lugar de um filho na familia. A ferida narcísica, o enfrentamento do casal diante do filho problema, o esforço da mãe para adequá-lo e o consequente abandono frente à pressão social que se faz em torno da diferença apontada pela aparência do patinho. Como diz o ditado: Filho feio não tem mãe.

Daí, partimos para uma viagem em busca da identidade daquele que foi rejeitado. Aventurando-se pelas mais diversas tribos, vai o patinho feio em sua busca de saber de si.Adere a outros grupos, e é sempre inadequado. Finalmente, para sua sorte e salvação, encontra um grupo de semelhantes generoso o suficiente para acolhê-lo e ampará-lo em seu crescimento e devir.

O relato bíblico nos traz, na cosmogonia judaico-cristã, o que se segue:


“ Então disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastam sobre a terra.
Assim Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou.
Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra, e sujeitai-a”. (Gn 1:27-28)

No livro dos começos, o Genesis, nos é dado conhecer como Deus criou nosso planeta e tudo o que nele existe. Podemos aprender sobre o sonho de Deus para sua criação, e como tudo foi sendo feito e nomeado por Ele. Homem e Mulher, disse Ele, feitos à sua imagem e semelhança.

Vai dentro de nós, não uma programação rígida, inequívoca, mas um mapa. Mapa onde podemos encontrar a marca referencial de quem somos, e a nossa direção.

Deus criou homem e mulher, disse para se unirem, crescerem,frutificarem. Deu a esta entidade casal o poder de, com Ele, gerar uma família. E deu ao par fundamental a tarefa de perpetuar a base para formação da identidade daqueles que viriam depois.

Para tanto, os abençoou, a partir de um lugar de poder e autoridade. Esta autoridade, foi, pela bênção do Supremo Criador, repassada ao primeiro homem. Diz a Bíblia: "Macho e fêmea os criou; e os abençoou, e chamou o seu nome Adão, no dia em que foram criados. E Adão viveu cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme à sua imagem, e chamou o seu nome Sete." (Gn 5:2-3)

Deus dá nome a Adão. Adão dá nome a Sete. E vamos ao longo de milênios nomeando nossos filhos. Com os nomes, imprimimos neles também nosso legado, a herança que passamos adiante. A identidade de um filho começa a ser forjada naquilo que ele é falado e se legitima no seio da família.

Um bebê que chega é falado, antes que fale. É nomeado, tem lugar na casa. Ou não. O não reconhecimento do filho, a não legitimação da sua individualidade, pode reproduzir a história do patinho feio, condenado a andar por aí perguntando, afinal, quem ele é.

Há uma ordem que nos torna capazes de nomear nossos filhos. Esta parte do fato de termos nós mesmos recebido um nome, e sermos reconhecidos por ele, e nos reconhecermos nele.Na medida em que nos integramos ao nosso nome e sobrenome, tomamos o nosso lugar na história.

Podemos então, de um lugar reconhecido, seguro, frutificar e nomear. Nossos filhos poderão reconhecer em nós a segurança dos nomes que recebem, e, confiantes, partirem para sua jornada, não mais em busca de perguntarem a todos quem são, mas de re-significarem o nome e o legado que receberam de nós.

Eu Sou o que Sou, diz o Senhor Deus. Ele Se nomeia, com segurança. Olhando para Ele, podemos seguir confiantes e criativos a nossa trajetória.

Não, nós não somos pequenos deuses. Mas como Seus filhos, podemos olhar para Ele e prosseguirmos adiante. Assim, façamos à semelhança Dele. Nossos filhos não são a reprodução de nós mesmos. Mas devem poder olhar para nós, à medida em que constroem seus próprios caminhos, com a segurança de que a imagem e o legado que transmitimos, seguirão com eles para sempre.

A história do Patinho Feio poderia ter sido diferente. Talvez ele tivesse sido um filho muito interessante naquela família de patos. Na convivencia com ele, seus pais e irmãos poderiam ter aprendido coisas que não sabiam... Talvez ele pudesse ter sido chamado por outro nome, menos depreciativo. Mas essa não seria a mesma história... Quem quiser, que conte outra!