Minha vida é movimento.



Dança. Compasso.



Canto.




Minha vida é passo.



Caminho, escuto, recordo.



Encontro e decanto.



Conflito, reflito e traço.



Minha vida é campo



onde lanço, arado.



Onde laço, espanto!



Onde tanto, escasso.



Onde espaço, encanto.



Onde espanto, abraço.







domingo, 18 de março de 2012

Celebrar a Tristeza



Maria Beatriz Versiani

“ A tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, o qual não traz pesar.” (2 Co 7:10a)

Talvez você que lê este artigo suponha que aquela que escreve esteja depressiva, fazendo, como os romanticos autores tuberculosos de outrora uma ode à tristeza. Não se trata disso. Absolutamente.

Do que pretendo tratar aqui é de uma natureza de tristeza que, conforme diz Paulo em sua segunda carta aos Coríntios, opera algo em nós. Algo que necessita ser operado.

Vivemos num tempo que rejeita a tristeza a todo custo. A oferta é de muita diversão, alienação e psicotrópicos. Anestesia para toda dor. As pesquisas mostram que o consumo de medicamentos tarja preta avança em passos largos, não havendo controle por parte dos órgãos responsáveis. Isso faz com que meninas de 16 anos estejam se entupindo de bromazepan e outros semelhantes... Isto faz com que crianças com diagnostico equivocado abusem de Ritalina, porque os pais não “agüentam” colocar limites nem se haver com a falta deles.

Nestes tempos, bom é o carnaval e a “alegria” (ou seria alegoria?) de quatro dias. Alegria que frequentemente se transforma em dor na quarta feira de cinzas... Lembro-me de uma marchinha de carnaval que aludia à quarta feira: “hoje não tem dança, não tem mais menina de trança, nem cheiro de lança no ar... hoje não tem frevo, tem gente que passa com medo na praça ninguém pra cantar”...

E na quarta feira de cinzas, dá-lhe mais umas pra rebater a ressaca moral e física.

Não, este texto não pretende ser moralista nem inconveniente. Ah, o mundo já tem tanta “desgraça” e ainda tem gente pra falar de tristeza?

Sim. Há um tipo de tristeza necessária para o crescimento. Há um tipo de luto que se deve fazer, e que a Bíblia nos ensina claramente que precisa acontecer de tempos em tempos na nossa caminhada.

Corremos o risco de seguirmos entorpecidos pela vida, até que tardiamente nos vejamos infrutíferos e sós. E isso pode nos levar a uma tristeza do mundo, essa que, ainda segundo Paulo na carta aos coríntios, opera a morte.

Há tristeza que nos leva à revisão de vida. Ao arrependimento. À conversão. O Evangelho de Mateus nos conta que Pedro, discípulo de Jesus, a quem tinha feito juras de fidelidade, no dia do julgamento sumário do Mestre, aquentava-se no pátio do lado de fora da casa de Caifás, o sumo sacerdote. Lá, em volta de uma fogueira, foi reconhecido como seguidor de Jesus. E o negou. Mais duas vezes foi reconhecido e, novamente, O negou.
Diz a Palavra: “Pedro lembrou-se da Palavra que Jesus lhe tinha dito: Antes que o galo cante, três vezes me negarás tu. E retirando-se dali, chorou amargamente.” (Mt 26: 69-75)

Sabemos que algum tempo depois, o Senhor Jesus Ressurreto, que havia em sua onisciência visto o arrependimento do seu discípulo, chamou-o numa praia à beira de uma fogueira onde assava peixes, e ali, levou-o a declarar o seu amor por Ele, por três vezes, para que a memória daquela tristeza fosse curada e se efetuasse a operação da cura e da conversão completa de Pedro. (Jo 21:15-17)

Pois bem. Assim aprendemos que precisamos discernir a tristeza segundo Deus da tristeza segundo o mundo. Seja bem vinda a tristeza que constrange o nosso coração (porque o amor de Cristo nos constrange), e que nos leva aos pés da cruz de Cristo. Seja bem vinda a tristeza que nos faz revisar nossas vidas, para buscarmos a verdade sobre nós. Seja bem vinda a tristeza que nos leva a reconhecer o nosso pecado, e buscarmos desesperadamente, não a anestesia passageira e alienante das drogas, da bebida, da sexualidade solta e desenfreada. Mas a cura definitiva para a nossa dor, que só podemos encontrar aos pés do Mestre.

Sim, seja bem vinda tristeza: “Cessou o gozo de nosso coração, converteu-se em lamentação a nossa dança. Caiu a coroa da nossa cabeça. Ai de nós, pois pecamos.”(Lm 5:15-16)

O poeta Vinícius de Moraes, em seu poema: Dia da Criação, nos remete ao lado B da “alegria” do sábado:

“Nesse momento há um casamento, porque hoje é sábado
Há um divórcio e um violamento,porque hoje é sábado
Há um homem rico que se mata, porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata, porque hoje é sábado
Há um espetáculo de gala, porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala, porque hoje é sábado...”

Porque hoje é sábado, eu convido você a celebrar a vida que se renova pela via da tristeza. Foi numa via dolorosa que o Senhor Jesus, numa sexta-feira, se fez todo dor e sofrimento, para que nossas dores e sofrimento cessassem. Porque hoje é sábado, eu convido você a deixar de lado a bebida que entorpece a razão, a busca frenética por um parceiro, o convite sensual da televisão. Porque hoje é sábado, eu convido você a visitar o túmulo dAquele que morreu, para então descobrir que a cruz está vazia, a pedra do sepulcro foi removida, Ele Vive, Ele Ressuscitou!

A alegria Dele é eterna e constante. A alegria que vem Dele é para sempre. Vale a pena revisar, com tristeza, o caminho por onde andamos. Para então, nos alegrarmos, eternamente, com Ele.

“Regozijai-vos sempre; orai sem cessar; em tudo dai graças, pois esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco. Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo. Retende o bem. Abstende-vos de todo tipo de mal. O mesmo Deus de paz vos santifique completamente. E todo o vosso espírito, alma e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também o fará.”(1 Ts 5:16-24)

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