Minha vida é movimento.



Dança. Compasso.



Canto.




Minha vida é passo.



Caminho, escuto, recordo.



Encontro e decanto.



Conflito, reflito e traço.



Minha vida é campo



onde lanço, arado.



Onde laço, espanto!



Onde tanto, escasso.



Onde espaço, encanto.



Onde espanto, abraço.







sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O SONHO DO SAPO BOI QUE COMEU O ESCORPIAO

Nesta noite acordei assustada! Sonhei que limpava um velho oratório de minha mãe, quando dele saiu um escorpião muito grande! Ele andava por cima de uma mesa, quando, de repente, voou! Que loucura, um escorpião já é bicho peçonhento, um escorpião que voa é absolutamente incontrolável! Nos porões da minha mente, velho oratório, tem de tudo: pequenas baratas, aranhas, escorpião que voa!
Em pânico olhava pr´aquela cena quando o escorpião pousou e veio andando em minha direção!

De perto da minha sombra, saiu então um sapo boi obeso, muito grande mesmo, com uma pele verde escuro, manchas marrons e aquela aparencia viscosa característica dos anfíbios... Em marcha lenta, foi se aproximando do escorpião... O peçonhento veio com seu rabo venenoso em posição de bote! Mas qual não foi a surpresa quando o sapo abriu sua bocarra e NHACT! Engoliu o escorpião de uma vez!
Ah, que delícia! A vingança do sapo!
Acordei com o coração batendo forte... Abri a janela e pude ver o sol que ameaçava nascer enquanto as estrelas ainda brilhavam no céu azul escuro... A constelação de escorpião e sua cauda brilhante...

Então entendi: em boca de sapo, escorpião não ri! Dentro de mim mora um sapo obeso que ainda que lento é capaz de engolir inteiros os escorpiões gigantes que não me deixam dormir!

Numa livraria, ainda a descoberta: Uma estória de Rubem Alves, que transcrevo agora, que diz que em costas de sapo, escorpião não mora!

Um dia a floresta pegou fogo. E incêndio não tem medo de rabo de escorpião. Só havia um jeito de fugir da morte: era atravessando o rio, para o outro lado. Os bichos que sabiam nadar pulavam na água, levando seus amigos nas costas. Mas o escorpião nem tinha amigos, nem sabia nadar. E não havia ninguém que se arriscasse a oferecer-lhe carona.
O escorpião, então, valentia e coragem sumidas ante o fogo que se aproximava, foi forçado a se humilhar. Dirigiu-se com voz mansa à rã, que se preparava para a travessia.
-Por favor, me leve nas suas costas - ele disse.
-Eu não sou louca. Sei muito bem o que você faz a todos que se aproximam de você - replicou a rã.
-Mas, veja- argumentou o escorpião- eu não posso picá-la com o meu ferrão. Se o fizesse, você morreria, afundaria, e eu junto, pois não sei nadar.
A rã ponderou que o raciocínio estava certo. Podia ser que o escorpião fosse muito feroz, mas não podia ser burro. Todo mundo ama a vida. O escorpião não podia ser diferente. Ele não iria matar, sabendo que assim se mataria... E, como tinha bom coração, resolveu fazer esta boa ação. -Muito bem. -disse a rã ao escorpião. -Suba nas minhas costas. Vou salvar sua vida...
O escorpião se encheu de alegria, subiu nas costas lisas da rã e começaram a travessia.
Que coisa -ele pensou- é a primeira vez que me encosto em alguém de corpo inteiro. Antes era só o ferrão... E até que não é ruim. O corpo da rã é bem maciozinho...
Enquanto isso, a rã ia dando suas braçadas tranqüilas, nado de peito, deslizando sobre a superfície. -E como é gostoso navegar- continuou o escorpião , nos seus pensamentos. - estes borrifos de água , como são gostosos. É bom ter a rã como amiga...
Estavam bem no meio do rio. O escorpião olhou para trás e viu a floresta em chamas. -Se não fosse a rã, eu estaria morto neste momento. E um estranho sentimento, desconhecido, encheu seu coração: gratidão. Nem sempre veneno e ferrão são a melhor solução. A vida estava com a rã, macia e inofensiva que não inspirava medo em ninguém... Sentiu seu corpo descontrair-se. Achou que a vida era boa... Era bom poder baixar a guarda e descansar.
Voltou-se de novo para trás, para olhar a floresta incendiada. Mas, ao fazer isto, viu-se refletido, corpo inteiro, na água do rio que brilhava à luz do fogo. E o que viu o horrorizou: seu rabo, dantes ereto, agora dobrado, desarmado. Escorpião de rabo mole... Todos ririam dele. E sentiu um ódio profundo da rã.
-Espelho, espelho meu, existe bicho mais terrível que eu? A resposta estava naquele rabo mole, refletido no espelho da água. E a única culpada era a rã...
Sem um outro pensamento, enrijeceu o rabo e o enfiou nas costas da rã.
A rã morreu. E, com ela, o escorpião.

*O mundo precisa de mais rãs e menos escorpiões*"

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