Minha vida é movimento.



Dança. Compasso.



Canto.




Minha vida é passo.



Caminho, escuto, recordo.



Encontro e decanto.



Conflito, reflito e traço.



Minha vida é campo



onde lanço, arado.



Onde laço, espanto!



Onde tanto, escasso.



Onde espaço, encanto.



Onde espanto, abraço.







quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Quanto vale a nossa herança?




Maria Beatriz Versiani

“Compra a verdade e não a vendas; sim, a sabedoria, e a disciplina e a prudência.” (Pv 23:23)

Convido-lhe a me acompanhar por uma viagem a três momentos na vida de três homens: Esaú, Judas e Jesus Cristo. Todos eles judeus, herdeiros da filiação prometida a Abrão. Todos eles conhecedores da Verdade sobre Deus e seus planos para a humanidade.

Comecemos pelo descrito no Livro de Genesis, capítulo 25, versos 27 a 34:

“E cresceram os meninos. E Esaú foi varão perito na caça, varão do campo; mas Jacó era varão simples, habitando em tendas.
E amava Isaque a Esaú, porque a caça era de seu gosto, mas Rebeca amava a Jacó.
E Jacó cozera um guisado; e veio Esaú do campo e estava ele cansado. E disse Esaú a Jacó:
- Deixa-me, peço-te, comer deste guisado vermelho, porque estou cansado. Por isso se chamou o seu nome Edom.
Então disse Jacó:
- Vende-me, hoje, a tua primogenitura.
E disse Esaú:
- Eis que estou a ponto de morrer, e para que me servirá logo a primogenitura?
Então disse Jacó:
- Jura-me hoje.
E jurou-lhe. E vendeu a sua primogenitura a Jacó. E Jacó deu pão a Esaú e o guisado de lentilhas; e ele comeu, e bebeu, e levantou-se, e foi-se. Assim desprezou Esaú sua primogenitura. “
O direito à primogenitura era também o direito a parte melhor da herança, ao poder, a receber a continuidade do lugar do pai na família.

Esaú vendeu seu direito a este lugar, recebido por Deus - pois havia nascido primeiro do que Jacó - por um bocado de guisado. A satisfação de uma necessidade corriqueira retirou dele o direito a um lugar vitalício. Esaú estava cansado. Fragilizado pela fome. Naquele momento não atentou para o alcance futuro da troca que fazia. A proposta de Jacó, cujo nome significa Enganador, era tentadora: um prato de guisado a alguém que está cansado e faminto. Esaú não resistiu, e perdeu.

Passemos agora ao Evangelho de Mateus 26, versos 14 a 16:
“Então um dos doze discípulos, chamado Judas Iscariotes, foi falar com os chefes dos sacerdotes. Ele disse:
- Quanto vocês me pagam para eu lhes entregar Jesus?
E eles lhe pagaram trinta moedas de prata.
E daí em diante Judas ficou procurando uma oportunidade para entregar Jesus.”

Eram dias difíceis. O Mestre idealizado por Judas como um grande e vitorioso líder político, se mostrava fragilizado pela realidade da cruz que o aguardava. Dois dias antes Ele havia avisado aos seus doze discípulos sobre a sua aparente derrota na cruz do calvário.
Judas estava, provavelmente, desanimado. Seu ideal revolucionário se esvaziava ante a perspectiva daquele final. Não era o final da história que ele havia sonhado. No evangelho de Lucas, capítulo 22, a Bíblia nos informa de que “entrou Satanás em Judas”, antes que ele O entregasse aos principais dos sacerdotes. O enganador surgiu no momento da fragilidade, e acenou com 30 moedas para alguém que gostava de dinheiro. E Judas perdeu. A Bíblia diz que depois de tudo, arrependido, tendo perdido a dimensão do amor do Pai, ele se precipitou sobre a morte, extinguindo sua própria vida.
Chegamos ao relato sobre outro homem: Jesus de Nazaré. Após ser reconhecido notoriamente pelo Pai, como filho amado, no batismo das águas de João, a Bíblia nos diz, no evangelho de Lucas, capítulo 4, que Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto:
“E quarenta dias foi tentado pelo diabo, e, naqueles dias, não comeu coisa alguma, e, terminados eles, teve fome. (grifo meu) E disse-lhe o diabo:
- Se tu és o Filho de Deus, dize a esta pedra que se transforme em pão.”

Jesus Cristo, homem, é o Filho de Deus. O tentador se aproximou da sua fragilidade humana, a fome, após quarenta dias sem se alimentar. Seu corpo estava fraco. Talvez suas mãos e pernas estivessem tremulas, talvez estivesse sem conseguir andar. Seu corpo de homem pedia comida e repouso. Mas, o Espírito Santo Nele, Aquele que o havia conduzido ao deserto – nos ensinando nesta passagem que muitas vezes o Espírito nos conduzirá a lugares áridos e de privação para provar o nosso desejo fiel de permanecer na presença Dele – esse Espírito conduziu sua resposta:

“E Jesus lhe respondeu, dizendo:
- Escrito está que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra de Deus.”

Ah, a Palavra. Essa que permite o escape nas provações e tentações. Essa que poderia ter conduzido Esaú a caminhar mais um pouco suportando sua fome, e não negociar a primogenitura. Essa que poderia ter garantido a Judas que todos os sinais evidenciavam um Reino estabelecido, não segundo a ordem deste mundo, mas segundo a vontade do Pai.

A Palavra, vivificada no homem Jesus pelo Espírito Santo, foi o instrumento capaz de impedi-lo de sequer negociar com o enganador, o pai da mentira, o príncipe deste mundo.

Disponho-me a pensar sobre estes três relatos e no quanto de cada um deles há em mim. Quantas vezes cheguei, cansada e faminta a pensar que um bocado de “lentilhas” fosse mais importante que minha condição de filha amada do pai. Em quantas situações me vi prestes a vender a cobertura do meu Senhor por um punhado de moedas.

O que são guisado e moedas para mim hoje? Festas? Companhia dos velhos amigos e hábitos? Consumismo? Arrogância? Necessidade de aplausos e reconhecimento?

Eu tenho permitido que o Espírito Santo me conduza à Palavra diante das tentações? Ou tenho ficado com o gozo instantâneo e efêmero que o enganador me oferece?

Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente. Seu inimigo também. Não nos enganemos quanto a disposição do maligno em atacar o corpo do Senhor. Estejamos saciados pela Palavra, e enriquecidos na presença do Espírito, para que, havendo fome e necessidade, não aceitemos a comida e as moedas do maligno, mas nos alimentemos do Pão da Vida, do Verbo Encarnado, da Palavra de Deus.

“Portanto, nós também, pois, que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço e o pecado que tão de perto nos rodeia e corramos, com paciência, a carreira que nos está proposta, olhando para JESUS, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus.
Considerai, pois, aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos.
...
E ninguém seja fornicador ou profano, como Esaú, que por um manjar, vendeu o seu direito de primogenitura. Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a benção foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que, com lágrimas, o buscou.
...
Pelo que, tendo recebido um Reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente com reverencia e piedade; porque o nosso Deus é um fogo consumidor.”
(Hb: 12: 1-3; 16-17; 28-29)

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