Conversa Paralela
Minha vida é movimento.
Dança. Compasso.
Canto.
Minha vida é passo.
Caminho, escuto, recordo.
Encontro e decanto.
Conflito, reflito e traço.
Minha vida é campo
onde lanço, arado.
Onde laço, espanto!
Onde tanto, escasso.
Onde espaço, encanto.
Onde espanto, abraço.
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
Quanto vale a nossa herança?
Maria Beatriz Versiani
“Compra a verdade e não a vendas; sim, a sabedoria, e a disciplina e a prudência.” (Pv 23:23)
Convido-lhe a me acompanhar por uma viagem a três momentos na vida de três homens: Esaú, Judas e Jesus Cristo. Todos eles judeus, herdeiros da filiação prometida a Abrão. Todos eles conhecedores da Verdade sobre Deus e seus planos para a humanidade.
Comecemos pelo descrito no Livro de Genesis, capítulo 25, versos 27 a 34:
“E cresceram os meninos. E Esaú foi varão perito na caça, varão do campo; mas Jacó era varão simples, habitando em tendas.
E amava Isaque a Esaú, porque a caça era de seu gosto, mas Rebeca amava a Jacó.
E Jacó cozera um guisado; e veio Esaú do campo e estava ele cansado. E disse Esaú a Jacó:
- Deixa-me, peço-te, comer deste guisado vermelho, porque estou cansado. Por isso se chamou o seu nome Edom.
Então disse Jacó:
- Vende-me, hoje, a tua primogenitura.
E disse Esaú:
- Eis que estou a ponto de morrer, e para que me servirá logo a primogenitura?
Então disse Jacó:
- Jura-me hoje.
E jurou-lhe. E vendeu a sua primogenitura a Jacó. E Jacó deu pão a Esaú e o guisado de lentilhas; e ele comeu, e bebeu, e levantou-se, e foi-se. Assim desprezou Esaú sua primogenitura. “
O direito à primogenitura era também o direito a parte melhor da herança, ao poder, a receber a continuidade do lugar do pai na família.
Esaú vendeu seu direito a este lugar, recebido por Deus - pois havia nascido primeiro do que Jacó - por um bocado de guisado. A satisfação de uma necessidade corriqueira retirou dele o direito a um lugar vitalício. Esaú estava cansado. Fragilizado pela fome. Naquele momento não atentou para o alcance futuro da troca que fazia. A proposta de Jacó, cujo nome significa Enganador, era tentadora: um prato de guisado a alguém que está cansado e faminto. Esaú não resistiu, e perdeu.
Passemos agora ao Evangelho de Mateus 26, versos 14 a 16:
“Então um dos doze discípulos, chamado Judas Iscariotes, foi falar com os chefes dos sacerdotes. Ele disse:
- Quanto vocês me pagam para eu lhes entregar Jesus?
E eles lhe pagaram trinta moedas de prata.
E daí em diante Judas ficou procurando uma oportunidade para entregar Jesus.”
Eram dias difíceis. O Mestre idealizado por Judas como um grande e vitorioso líder político, se mostrava fragilizado pela realidade da cruz que o aguardava. Dois dias antes Ele havia avisado aos seus doze discípulos sobre a sua aparente derrota na cruz do calvário.
Judas estava, provavelmente, desanimado. Seu ideal revolucionário se esvaziava ante a perspectiva daquele final. Não era o final da história que ele havia sonhado. No evangelho de Lucas, capítulo 22, a Bíblia nos informa de que “entrou Satanás em Judas”, antes que ele O entregasse aos principais dos sacerdotes. O enganador surgiu no momento da fragilidade, e acenou com 30 moedas para alguém que gostava de dinheiro. E Judas perdeu. A Bíblia diz que depois de tudo, arrependido, tendo perdido a dimensão do amor do Pai, ele se precipitou sobre a morte, extinguindo sua própria vida.
Chegamos ao relato sobre outro homem: Jesus de Nazaré. Após ser reconhecido notoriamente pelo Pai, como filho amado, no batismo das águas de João, a Bíblia nos diz, no evangelho de Lucas, capítulo 4, que Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto:
“E quarenta dias foi tentado pelo diabo, e, naqueles dias, não comeu coisa alguma, e, terminados eles, teve fome. (grifo meu) E disse-lhe o diabo:
- Se tu és o Filho de Deus, dize a esta pedra que se transforme em pão.”
Jesus Cristo, homem, é o Filho de Deus. O tentador se aproximou da sua fragilidade humana, a fome, após quarenta dias sem se alimentar. Seu corpo estava fraco. Talvez suas mãos e pernas estivessem tremulas, talvez estivesse sem conseguir andar. Seu corpo de homem pedia comida e repouso. Mas, o Espírito Santo Nele, Aquele que o havia conduzido ao deserto – nos ensinando nesta passagem que muitas vezes o Espírito nos conduzirá a lugares áridos e de privação para provar o nosso desejo fiel de permanecer na presença Dele – esse Espírito conduziu sua resposta:
“E Jesus lhe respondeu, dizendo:
- Escrito está que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra de Deus.”
Ah, a Palavra. Essa que permite o escape nas provações e tentações. Essa que poderia ter conduzido Esaú a caminhar mais um pouco suportando sua fome, e não negociar a primogenitura. Essa que poderia ter garantido a Judas que todos os sinais evidenciavam um Reino estabelecido, não segundo a ordem deste mundo, mas segundo a vontade do Pai.
A Palavra, vivificada no homem Jesus pelo Espírito Santo, foi o instrumento capaz de impedi-lo de sequer negociar com o enganador, o pai da mentira, o príncipe deste mundo.
Disponho-me a pensar sobre estes três relatos e no quanto de cada um deles há em mim. Quantas vezes cheguei, cansada e faminta a pensar que um bocado de “lentilhas” fosse mais importante que minha condição de filha amada do pai. Em quantas situações me vi prestes a vender a cobertura do meu Senhor por um punhado de moedas.
O que são guisado e moedas para mim hoje? Festas? Companhia dos velhos amigos e hábitos? Consumismo? Arrogância? Necessidade de aplausos e reconhecimento?
Eu tenho permitido que o Espírito Santo me conduza à Palavra diante das tentações? Ou tenho ficado com o gozo instantâneo e efêmero que o enganador me oferece?
Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente. Seu inimigo também. Não nos enganemos quanto a disposição do maligno em atacar o corpo do Senhor. Estejamos saciados pela Palavra, e enriquecidos na presença do Espírito, para que, havendo fome e necessidade, não aceitemos a comida e as moedas do maligno, mas nos alimentemos do Pão da Vida, do Verbo Encarnado, da Palavra de Deus.
“Portanto, nós também, pois, que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço e o pecado que tão de perto nos rodeia e corramos, com paciência, a carreira que nos está proposta, olhando para JESUS, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus.
Considerai, pois, aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos.
...
E ninguém seja fornicador ou profano, como Esaú, que por um manjar, vendeu o seu direito de primogenitura. Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a benção foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que, com lágrimas, o buscou.
...
Pelo que, tendo recebido um Reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente com reverencia e piedade; porque o nosso Deus é um fogo consumidor.”
(Hb: 12: 1-3; 16-17; 28-29)
terça-feira, 24 de julho de 2012
Se a sua língua te faz pecar
Maria Beatriz Versiani
“No dia seguinte, quando saíram de Betania, teve fome. E, vendo de longe uma figueira com folhas, foi ver se nela, porventura, acharia alguma coisa. Aproximando-se dela, nada achou, senão folhas; porque não era tempo de figos. Então lhe disse Jesus : Nunca jamais alguém coma fruto de ti! E seus discípulos ouviram isto.
...
E passando eles pela manhã, viram que a figueira secara desde a raiz. Então Pedro, lembrando-se falou: Mestre eis que a figueira que amaldiçoaste secou. Ao que Jesus lhes disse: Tende fé em Deus; porque em verdade vos afirmo que se alguém disser a este monte: ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar no seu coração, mas crer que se fará o que diz, assim será com ele.” (Mc 11: 13-14; 20-23)
A palavra é o meio pelo qual Deus criou todas as coisas. No livro de Genesis (Começos), capítulo 1 podemos ler: “E disse Deus”, muitas vezes, antecedendo o verbo Haver: “Disse Deus: haja luz, e houve luz” (Gn 1:3).
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dEle, e, sem Ele, nada do que foi feito se fez.” (Jo 1:1-3)
Partindo desse ponto, somos convidados a pensar: ao intitular o próprio Deus Encarnado de Verbo, o que nos ensinam as escrituras? Ele, aquele que detém todo o poder, é Verbo, é Palavra da Verdade (Tg 1:18). Através da Palavra, do dizer, tudo o que foi feito se fez. A natureza, os céus, a terra, a luz, os homens - imagem e semelhança de Deus.
Aos homens também foi conferido o dom de falar. Depreendemos da passagem do evangelho de Marcos que também a nós foi outorgado poder através das palavras que dizemos. Por isso, oramos em alta voz. Nós ouvimos e Deus ouve.
Interessante. A passagem da figueira nos conta que os discípulos ouviram o que Jesus disse à figueira. E que Pedro se lembrou do que havia sido dito. Então o que falamos será lembrado pelos que escutam.
Pelas palavras temos poder para abençoar e para amaldiçoar. Alguém que ouviu muitas vezes durante a infância que é uma peste, uma praga, que atrasa a vida dos pais, provavelmente crescerá acreditando nisso. E talvez venha mesmo a ser uma peste,uma praga, confirmando, por um mover inconsciente, essas “maldições familiares”.
Como temos usado nossa língua? Na família, com nossos cônjuges, com nossos filhos. Como a temos usado conosco mesmos? Será que temos gerado em torno de nós palavras de fé e esperança, ou palavras de desanimo e destruição?
Temos louvado, agradecido o que recebemos, ou temos nos queixado daquilo que não nos foi dado? Na primeira carta de Paulo aos Coríntios ele nos relata de como Deus não se agradou do seu povo, razão pela qual ficaram prostrados no deserto. Os motivos? Idolatria, imoralidade, murmuração.
O que temos gerado em nosso meio, através do que dizemos, tem sido bênçãos ou maldições? A maledicência pode destruir vidas, como nos afirma Tiago:
“Ora, a língua é fogo; é mundo de iniqüidade; a língua está situada entre os membros de nosso corpo, e contamina o corpo inteiro, e não só põe em chamas toda a carreira da existência humana, como também é posta ela mesma em chamas pelo inferno.” (Tg 3:6)
Vivemos num mundo em que as notícias se espalham rapidamente. Pela internet publica-se qualquer coisa, verdades ou mentiras. E dá-lhe processos judiciais para responder a calunias publicas. Mas não só na mídia notícias sobre outrem podem ser devastadoras. Vemos isso na igreja, no trabalho, na escola. Vemos isso nas famílias. Maldizer alguém é lançar fogo sobre a sua vida.
Daí a nossa responsabilidade sobre o que dizemos. Da próxima vez que você perceber que a sua língua vai te fazer pecar, corte-a fora! Não, não estou sugerindo uma auto-mutilação. Cortá-la fora é uma metáfora para dizer: escolha não falar. Fique em silencio, promova a paz, e quando falar seja para edificar vidas e não para destruir.
“Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para a edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem.
Não entristeçais o Espírito de Deus, para o quel fostes selados para o dia da Redenção.” (Ef 4:29-30)
As Três Peneiras de Sócrates
Um homem foi ao encontro de Sócrates levando ao filósofo uma informação que julgava de seu interesse:
- Quero contar-te uma coisa a respeito de um amigo teu!
- Espera um momento – disse Sócrates – Antes de contar-me, quero saber se fizeste passar essa informação pelas três peneiras.
- Três peneiras? Que queres dizer?
- Vamos peneirar aquilo que quer me dizer. Devemos sempre usar as três peneiras. Se não as conheces, presta bem atenção. A primeira é a peneira da VERDADE. Tens certeza de que isso que queres dizer-me é verdade?
- Bem, foi o que ouvi outros contarem. Não sei exatamente se é verdade.
- A segunda peneira é a da BONDADE. Com certeza, deves ter passado a informação pela peneira da bondade. Ou não?
Envergonhado, o homem respondeu:
- Devo confessar que não.
- A terceira peneira é a da UTILIDADE. Pensaste bem se é útil o que vieste falar a respeito do meu amigo?
- Útil? Na verdade, não.
- Então, disse-lhe o sábio, se o que queres contar-me não é verdadeiro, nem bom, nem útil, então é melhor que o guardes apenas para ti.
Tratando as Feridas do Corpo de Cristo
Lembro-me de um fato ocorrido há cerca de 15 anos. Certo médico, numa comemoração, dispôs-se a soltar fogos, estando a festa lá pelas tantas. Resultado: o foguete estourou em sua mão e queimou-a completamente. Com a dignidade de um verdadeiro médico diante da dor, ele mesmo levou sua mão em carne viva à água abundante, e lavou-a bem com sabão em barra, para em seguida untá-la e enfaixá-la. Passado um tempo, não havia sequer uma cicatriz do triste evento, a não ser o que se aprendeu sobre como não soltar foguetes.
Aprendi com aquele médico: quando há um ferimento a primeira medida é lavá-lo com água e sabão. Não podemos aplicar sobre ele uma faixa ou um bandaid, tamponando antes de limpar. Caso contrário a ferida ficará infeccionada, podendo trazer graves complicações para todo o corpo.
O Senhor Jesus, médico dos médicos, em sua Palavra afirma, através do apóstolo Paulo, que somos membros de um só corpo:
“Pois em um só corpo todos nós fomos batizados em um único Espírito: quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um único Espírito.
O corpo não é composto de um só membro, mas de muitos.
Se o pé disser: "Porque não sou mão, não pertenço ao corpo", nem por isso deixa de fazer parte do corpo.
E se o ouvido disser: "Porque não sou olho, não pertenço ao corpo", nem por isso deixa de fazer parte do corpo.
Se todo o corpo fosse olho, onde estaria a audição? Se todo o corpo fosse ouvido, onde estaria o olfato?
De fato, Deus dispôs cada um dos membros no corpo, segundo a sua vontade.
Se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo?
Assim, há muitos membros, mas um só corpo.
O olho não pode dizer à mão: "Não preciso de você! " Nem a cabeça pode dizer aos pés: "Não preciso de vocês! "
(1 Coríntios 12:13-21)
Como tem estado este Corpo? Corpo espiritual, formado pela igreja, pelos crentes em Cristo? Certamente, com muitos membros saudáveis, e outros nem tanto. As feridas que se apresentam neste corpo são, geralmente, da ordem do caráter, e causadas pela presença deste vírus tão disseminado entre os homens: o pecado. O pecado gera feridas repulsivas, fétidas, purulentas.
Quando membros saudáveis as vêem, sua tendência natural é repudiar, esconder, ocultar. Ou desejar extirpar esta parte do corpo, muitas vezes de modo prematuro, antes que o tecido seja necrosado.
No evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas, capítulo 10, o Senhor nos ensina algo sobre como tratar feridas, com a parábola do bom samaritano. Diz o texto que um homem foi assaltado e surrado à beira da estrada. Por esta estrada passava um sacerdote. Ao deparar-se com ele, atravessou para não se obrigar a fazer algo. Em seguida, passou um levita. Ao ver o homem, foi embora pelo outro lado da estrada. Passando também um samaritano, homem sem dignidade aos olhos dos judeus, este se compadeceu do que estava ferido.
“Então chegou perto dele, limpou seus ferimentos com azeite e vinho e em seguida os enfaixou. Depois disso, o samaritano colocou-o no seu próprio animal e o levou para uma pensão, onde cuidou dele.”
(Lc 10:33-34)
O Mestre nos pergunta: “- Na sua opinião, qual desses três foi o próximo do homem assaltado?”
Quem é o seu próximo?
Se somos membros de um mesmo corpo, então precisamos tratar uns dos outros. Com o amor de Cristo, com a Água Viva, com o Azeite do Espírito. Precisamos colocar o membro ferido em nossa vida, e cuidar dele. Não é coerente com a fé que professamos que simplesmente queiramos ocultar as feridas do corpo.
Feridas precisam ser tratadas. E em seguida protegidas. Expor feridas à ação do tempo antes que criem casca pode gerar infecções. É preciso refazer os curativos diariamente, e acompanhar a cicatrização.
Todos fomos batizados em um só Espirito, quer escravos, quer livres. Alguns de nós estão mais maduros, mais libertos de pecados aparentes, mais fortalecidos na fé. Outros estão ainda fracos, escravos de pecados recorrentes. O que faremos a estes? Atravessaremos a estrada, fingindo não ser conosco? Ou, atendendo à instrução do Cabeça do Corpo, os recolheremos da beira do caminho, nos dispondo a lavar e tratar suas feridas?
“Pelo contrário, os membros do corpo que parecem mais fracos são indispensáveis,
e os membros que pensamos serem menos honrosos, tratamos com especial honra. E os membros que em nós são indecorosos são tratados com decoro especial,
enquanto os que em nós são decorosos não precisam ser tratados de maneira especial. Mas Deus estruturou o corpo dando maior honra aos membros que dela tinham falta,
a fim de que não haja divisão no corpo, mas, sim, que todos os membros tenham igual cuidado uns pelos outros.
Quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele; quando um membro é honrado, todos os outros se alegram com ele.
Ora, vocês são o corpo de Cristo, e cada um de vocês, individualmente, é membro desse corpo.” (1 Co12:22-27)
sábado, 5 de maio de 2012
LEVANTA, SACODE A POEIRA, DÁ A VOLTA POR CIMA
Maria Beatriz Versiani
Diz a letra de um velho samba: Reconhece a queda, e não desanima: Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima! Apenas uma ilustração do cancioneiro popular para algo muito superior, que o Senhor Jesus nos ensinou em Seu Evangelho segundo Mateus: “Ao entrardes na casa, saudai-a: se, com efeito, a casa for digna, venha sobre ela a vossa paz; se, porém, não o for, torne para vós outros a vossa paz. Se alguém não vos receber, nem ouvir as vossas palavras, ao sairdes daquela casa ou daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés. Em verdade vos digo que menos rigor haverá para Sodoma e Gomorra, no dia do Juízo, do que para aquela cidade.” (Mt 10:12-15)
Somos seres humanos, e, por isso, relacionais. Nossa marca é a impossibilidade de vivermos e perpetuarmos a espécie sem nos encontramos uns com os outros. Tudo se dá nos encontros.
O propósito dos encontros aos quais o Senhor Jesus se referia naquele momento era pregar o Reino de Deus. Um Reino que não era deste mundo, não obedecia à ordem social deste mundo, não correspondia aos anseios deste mundo. Reino de uma lógica considerada “loucura” e “fraqueza” para os que não creram, mas Poder de Deus para os que o aceitaram. Os doze apóstolos estavam sendo enviados naquele momento, “de preferência, às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt10:6).
Isto nos indica que aqueles cristãos iam não para um povo que não conhecia e não esperava as coisas do Senhor, mas para um povo que, por causa de seu coração endurecido, se assemelhava a lobos. Sacudir a poeira dos pés era um sinal de repúdio que os judeus utilizavam para os não judeus. Assim, foi este o sinal que o Senhor disse que os apóstolos utilizassem, se necessário, com os próprios judeus, para causar impacto aos seus corações rebeldes e endurecidos.
A Palavra de Deus nos compara a casas espirituais: “Também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo.” (1 Pe 2:5) Daí que se somos casa, habitação, todos nós seres humanos temos um senhor, um dono da casa. E esse dono ornamenta sua casa com aquilo que diz respeito a ele. Nós, cristãos, somos habitação do Espírito Santo de Deus, é Ele quem determina a decoração, a limpeza, a manutenção.
Ao nos encontrarmos, fazemos trocas intelectuais, afetivas. Entramos “na casa” uns dos outros. Para nós cristãos, está dada a direção: quando ” entrarmos numa casa”, quando nos encontrarmos com qualquer outro, devemos saudá-lo com a paz que vem do Senhor que habita em nós. Se esta “casa” for digna de receber, será sobre ela a nossa paz, a paz do nosso Senhor. Se rejeitar-nos, devemos, ao sair dela, sacudir o pó dos nossos pés. O juízo sobre esta “casa” virá não por nós mesmos, mas pelo Senhor que habita em nós. Como lidar com a rejeição? Como responder a uma ofensa? Como receber a injúria, a injustiça? Devemos nós, cristãos, reivindicar incessantemente nosso direitos num mundo regido pelo maligno? Que direitos ele nos concederia?
O nosso Mestre foi destituído de todos os seus direitos. E não abriu a boca. Não o fez porque não pudesse, sim, Ele podia tudo. Mas porque era necessário que por um pouco de tempo fosse humilhado, para a manifestação da Sua Glória. O discípulo não é maior que o Mestre. Somos “pequenos cristos” e por isso carregamos, com Ele, o opróbrio, a vergonha, a perseguição. Não temeremos os “que matam o corpo”, porque quem não toma a sua cruz, e vai após Ele, não é digno Dele. Caminhamos como peregrinos, submetendo-nos a toda instituição humana, por causa do Senhor (1 Pe 2:13), guardados pelo poder de Deus, exultantes na salvação que se revelará no último tempo: “Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram.” (Ap 21:3-4)
“Bem aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas” (Ap: 22:14)
Aí está a nossa volta por cima. Reconhecer que nosso lugar de glória não está aqui, no mundo manifesto, mas nas coisas que ainda não vimos e não conhecemos, e que Deus, o nosso Pai, tem preparado para nós.
Vamos irmãos. Andemos em alegria e temor, cantando hinos e louvando ao nosso Deus. Saudemos a todos com a nossa paz, desejemos a paz, ministremos amor e perdão. Façamos a qualquer pessoa como se fosse para Ele. Façamos somente o bem, e nunca o mal. Caminhemos. Ele está conosco nesta viagem todos os dias, até alcançarmos a Terra Prometida.
Diz a letra de um velho samba: Reconhece a queda, e não desanima: Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima! Apenas uma ilustração do cancioneiro popular para algo muito superior, que o Senhor Jesus nos ensinou em Seu Evangelho segundo Mateus: “Ao entrardes na casa, saudai-a: se, com efeito, a casa for digna, venha sobre ela a vossa paz; se, porém, não o for, torne para vós outros a vossa paz. Se alguém não vos receber, nem ouvir as vossas palavras, ao sairdes daquela casa ou daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés. Em verdade vos digo que menos rigor haverá para Sodoma e Gomorra, no dia do Juízo, do que para aquela cidade.” (Mt 10:12-15)
Somos seres humanos, e, por isso, relacionais. Nossa marca é a impossibilidade de vivermos e perpetuarmos a espécie sem nos encontramos uns com os outros. Tudo se dá nos encontros.
O propósito dos encontros aos quais o Senhor Jesus se referia naquele momento era pregar o Reino de Deus. Um Reino que não era deste mundo, não obedecia à ordem social deste mundo, não correspondia aos anseios deste mundo. Reino de uma lógica considerada “loucura” e “fraqueza” para os que não creram, mas Poder de Deus para os que o aceitaram. Os doze apóstolos estavam sendo enviados naquele momento, “de preferência, às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt10:6).
Isto nos indica que aqueles cristãos iam não para um povo que não conhecia e não esperava as coisas do Senhor, mas para um povo que, por causa de seu coração endurecido, se assemelhava a lobos. Sacudir a poeira dos pés era um sinal de repúdio que os judeus utilizavam para os não judeus. Assim, foi este o sinal que o Senhor disse que os apóstolos utilizassem, se necessário, com os próprios judeus, para causar impacto aos seus corações rebeldes e endurecidos.
A Palavra de Deus nos compara a casas espirituais: “Também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo.” (1 Pe 2:5) Daí que se somos casa, habitação, todos nós seres humanos temos um senhor, um dono da casa. E esse dono ornamenta sua casa com aquilo que diz respeito a ele. Nós, cristãos, somos habitação do Espírito Santo de Deus, é Ele quem determina a decoração, a limpeza, a manutenção.
Ao nos encontrarmos, fazemos trocas intelectuais, afetivas. Entramos “na casa” uns dos outros. Para nós cristãos, está dada a direção: quando ” entrarmos numa casa”, quando nos encontrarmos com qualquer outro, devemos saudá-lo com a paz que vem do Senhor que habita em nós. Se esta “casa” for digna de receber, será sobre ela a nossa paz, a paz do nosso Senhor. Se rejeitar-nos, devemos, ao sair dela, sacudir o pó dos nossos pés. O juízo sobre esta “casa” virá não por nós mesmos, mas pelo Senhor que habita em nós. Como lidar com a rejeição? Como responder a uma ofensa? Como receber a injúria, a injustiça? Devemos nós, cristãos, reivindicar incessantemente nosso direitos num mundo regido pelo maligno? Que direitos ele nos concederia?
O nosso Mestre foi destituído de todos os seus direitos. E não abriu a boca. Não o fez porque não pudesse, sim, Ele podia tudo. Mas porque era necessário que por um pouco de tempo fosse humilhado, para a manifestação da Sua Glória. O discípulo não é maior que o Mestre. Somos “pequenos cristos” e por isso carregamos, com Ele, o opróbrio, a vergonha, a perseguição. Não temeremos os “que matam o corpo”, porque quem não toma a sua cruz, e vai após Ele, não é digno Dele. Caminhamos como peregrinos, submetendo-nos a toda instituição humana, por causa do Senhor (1 Pe 2:13), guardados pelo poder de Deus, exultantes na salvação que se revelará no último tempo: “Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram.” (Ap 21:3-4)
“Bem aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas” (Ap: 22:14)
Aí está a nossa volta por cima. Reconhecer que nosso lugar de glória não está aqui, no mundo manifesto, mas nas coisas que ainda não vimos e não conhecemos, e que Deus, o nosso Pai, tem preparado para nós.
Vamos irmãos. Andemos em alegria e temor, cantando hinos e louvando ao nosso Deus. Saudemos a todos com a nossa paz, desejemos a paz, ministremos amor e perdão. Façamos a qualquer pessoa como se fosse para Ele. Façamos somente o bem, e nunca o mal. Caminhemos. Ele está conosco nesta viagem todos os dias, até alcançarmos a Terra Prometida.
quarta-feira, 4 de abril de 2012
O Leite Espiritual
Maria Beatriz Versiani
“Desejai ardentemente, como meninos recém nascidos, o puro leite espiritual, para por ele crescerdes para a salvação, agora que já provastes que o Senhor é bom.” (1 Pe 2:2-3)
Sento-me diante do texto perplexa com a poesia que o Espírito Santo plantou no coração de Pedro, um rude pescador. Que metáfora! Vejo os bebês arquivados em minha memória e seu choro forte que só cessa no peito da mãe.
Com que ardor um bebezinho clama pelo leite! É questão de sobrevivência! Sem o leite, há desidratação, queda de temperatura, não há crescimento. Para o bebê, o leite é o alimento completo. Até mesmo uma mãe desnutrida guardará o melhor de seus nutrientes no leite do peito que oferece ao seu bebê.
Ao peito, o bebe encontra não somente o alimento, mas o sentido. A criança encontra na experiência de mamar o olhar da mãe sobre ela, olhar que vem carregado de significantes, que serão tomados na construção da identidade.
Podemos pensar então sobre o texto bíblico. Desejar ardentemente o leite espiritual conduz-nos ao encontro do sentido de quem verdadeiramente somos. O encontro com o leite espiritual é o encontro com a Palavra, essa que nos dá a identidade: sermos filhos de Deus.
Desejar ardentemente o leite espiritual significa não abrir mão daquilo que me é primordial. O alimento garante a sobrevivência. Não posso viver sem Ele.
Talvez por isso o Senhor Jesus tenha afirmado: “ Em verdade vos digo, que se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus.” (Mt 17:3)
Preciso desejá-Lo ardentemente. Com a urgência de um bebê faminto. Com a necessidade de um bebê desamparado. Ao acordar, chorar por Ele, por Sua presença, pelo alimento que me dá. E então, vindo Ele, saciar-me, recebendo e fruindo de tudo aquilo que Ele tem para mim.
“Sacia-nos de manhã com o teu constante amor, para que nos regozijemos, e nos alegremos todos os nossos dias.
Alegra-nos pelos dias que nos afligiste, e pelos anos em que vimos o mal. Apareça a tua obra aos teus servos, e a tua glória sobre seus filhos.
Seja sobre nós a graça do Senhor, nosso Deus; confirma sobre nós a obra das nossas mãos. Sim, confirma sobre nós a obra das nossas mãos.” (Sl 90:14-17)
quarta-feira, 28 de março de 2012
Sobre a negação da castração e a disposição perversa da teologia da prosperidade
Sobre a Negação da Castração e a Disposição Perversa da Teologia da Prosperidade
Maria Beatriz Versiani
Psicanálise e teologia não se misturam! A frase é dita com convicção tanto por psicanalistas como por teólogos. Tenho, contudo, abertas as possibilidades de escuta para um diálogo que, há alguns anos, vem teimando em se fazer no espaço entre estes dois saberes. O primeiro, do homem e sua singular subjetividade, e, o segundo, do homem e sua singular e subjetiva condição de ser espiritual, transcendente.
A partir da brecha que se abre entre estes dois campos, proponho pensar sobre o contemporâneo desmentido que a teologia da prosperidade opera para negar a castração.
Somos seres insaciáveis. À falta-a-ser, estruturante do sujeito do desejo, respondemos de maneiras diversas e particulares. Mas trata-se aqui mais de analisar-se um discurso, que, pretendendo fazer-se cristão, sai como mentiroso na medida em que desmente a falta.
Somos faltosos. Desde o Éden. Lá, no jardim-útero, éramos completos. Não experimentávamos a falta, visto que não havia separação. O que instaura a falta é justamente aquilo que separa, que se interpõe numa relação simbiótica, o que se opõe ao emaranhado que não permite saber até onde sou eu, e até onde o outro.
No Éden, literalmente, caímos. A expulsão do jardim é chamada Queda de Adão. Queda do primeiro homem. Experiência que inaugura a angústia da falta a ser. Após a queda, a maldição da incompletude: “E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua concepção; com dor terás filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará. E a Adão disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei dizendo: não comerás dela: maldita é a terra por causa de ti, com dor comerás dela por toda a tua vida.” (Gn 3:16-17)
“O Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado. E havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida.” (Gn 3:23-24)
A condição de completude foi interditada. Não, ao primeiro homem não seria concedido tudo. Era preciso, mesmo ali no jardim, lidar com a falta. De uma árvore ele não poderia comer. Se o fizesse, morreria. Morreu para a ilusão de ser completo.
Pois bem. O que dizer então, de um “evangelho” que prega a completude, a totalidade neste mundo? O que dizer de um “evangelho” que alardeia sobre não sermos frustrados? Ah, sim, somos não somente vencedores, mas mais que vencedores. O versículo existe, no contexto. O texto leva-me a crer que somos sim, mais que vencedores, sobre a nossa própria natureza, exageradamente humana. Que em Cristo, importa que meu ego diminua para que Ele cresça. E o poder Dele, que se aperfeiçoa na minha fraqueza, me fará capaz de suportar toda a castração que me estiver imposta, porque humana. Importa que cada dia seja menos a minha vontade, e mais a vontade de Deus, a governar minha vida.
Porque a minha vontade é da ordem da demanda, e seu destino é deslizar por uma longa cadeia de substituições. Se eu queria um marido, agora já não me serve mais! Se eu queria uma casa, agora está muito pequena, ou demasiado grande. Se eu queria um carro, está obsoleto, ou gasta muito. Quem sabe uma bicicleta?
Do púlpito ouço anunciarem: imagine o que você quer ser, fotografe-se vestido disso, e você o será. Alguma semelhança com alguém vestir-se de enfermeira para uma noite de sexo? O fetiche é um desmentido. Quer negar a castração.
Mas o evangelho de Cristo, esse não nega. Não dá margem para dúvidas. Estreito é o caminho que conduz à salvação... Entrai pela porta estreita... o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça...
Então [Jesus] chamou a multidão e os discípulos e disse: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa e pelo evangelho, a salvará. Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? (Mc 8:34-36)
O evangelho de Cristo, o Filho do Homem, o Verbo Encarnado, diz que é preciso perder, para então ganhar. Mas perder o que? O seu próprio ego. Negue-se a si mesmo. Negue-se às suas vontades, negue-se às suas demandas.Negue-se à sua mania de grandeza. Negue-se ao seu desejo de fazer crescer o seu nome mais do que o Nome Dele. Tome a sua cruz, tome a sua dor, tome a sua falta, tome as suas frustrações, tome a sua castração. E, então, siga-Me.
A esta altura,caro leitor, se você tiver chegado até aqui, convido-o a uma leitura complementar, a Carta de Judas, irmão de Tiago. Ele, servo de Jesus Cristo e seu irmão, adverte: “Pois alguns homens que não temem a Deus entraram no meio da nossa gente sem serem notados. Eles torcem a mensagem a respeito da graça do nosso Deus a fim de arranjar uma desculpa para sua vida imoral. E também rejeitam Jesus Cristo, o nosso único Mestre e Senhor. Há muito tempo que as Escrituras Sagradas anunciaram a condenação que eles já receberam.” (Jd 1:4)
E, ainda, João, em sua segunda carta: “Quem não fica com o ensinamento de Cristo, mas vai além dele, não tem Deus. Porém, quem fica com o ensinamento de Cristo, esse tem tanto o Pai como o Filho. Se alguém for até vocês e não levar o ensinamento de Cristo, não recebam essa pessoa na casa de vocês, nem lhe digam: “Que a paz esteja com você!” Pois quem deseja paz a esta pessoa é seu companheiro no mal que ela faz.” (2 Jo:9-10)
Sim, o Verbo se fez Carne. E Ele foi devastado, fez-se um nada, para que nEle fosse feita a vontade do Pai. Ele fez-se um nada, para que pudéssemos ser. Não ascendemos à condição de filhos pelo encontro do espermatozóide com o óvulo, como sugere o orador. Somente o alcançamos pelo encontro do Todo com o nada na cruz, onde, fazendo-se perdedor, venceu o mundo.
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domingo, 18 de março de 2012
Celebrar a Tristeza
Maria Beatriz Versiani
“ A tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, o qual não traz pesar.” (2 Co 7:10a)
Talvez você que lê este artigo suponha que aquela que escreve esteja depressiva, fazendo, como os romanticos autores tuberculosos de outrora uma ode à tristeza. Não se trata disso. Absolutamente.
Do que pretendo tratar aqui é de uma natureza de tristeza que, conforme diz Paulo em sua segunda carta aos Coríntios, opera algo em nós. Algo que necessita ser operado.
Vivemos num tempo que rejeita a tristeza a todo custo. A oferta é de muita diversão, alienação e psicotrópicos. Anestesia para toda dor. As pesquisas mostram que o consumo de medicamentos tarja preta avança em passos largos, não havendo controle por parte dos órgãos responsáveis. Isso faz com que meninas de 16 anos estejam se entupindo de bromazepan e outros semelhantes... Isto faz com que crianças com diagnostico equivocado abusem de Ritalina, porque os pais não “agüentam” colocar limites nem se haver com a falta deles.
Nestes tempos, bom é o carnaval e a “alegria” (ou seria alegoria?) de quatro dias. Alegria que frequentemente se transforma em dor na quarta feira de cinzas... Lembro-me de uma marchinha de carnaval que aludia à quarta feira: “hoje não tem dança, não tem mais menina de trança, nem cheiro de lança no ar... hoje não tem frevo, tem gente que passa com medo na praça ninguém pra cantar”...
E na quarta feira de cinzas, dá-lhe mais umas pra rebater a ressaca moral e física.
Não, este texto não pretende ser moralista nem inconveniente. Ah, o mundo já tem tanta “desgraça” e ainda tem gente pra falar de tristeza?
Sim. Há um tipo de tristeza necessária para o crescimento. Há um tipo de luto que se deve fazer, e que a Bíblia nos ensina claramente que precisa acontecer de tempos em tempos na nossa caminhada.
Corremos o risco de seguirmos entorpecidos pela vida, até que tardiamente nos vejamos infrutíferos e sós. E isso pode nos levar a uma tristeza do mundo, essa que, ainda segundo Paulo na carta aos coríntios, opera a morte.
Há tristeza que nos leva à revisão de vida. Ao arrependimento. À conversão. O Evangelho de Mateus nos conta que Pedro, discípulo de Jesus, a quem tinha feito juras de fidelidade, no dia do julgamento sumário do Mestre, aquentava-se no pátio do lado de fora da casa de Caifás, o sumo sacerdote. Lá, em volta de uma fogueira, foi reconhecido como seguidor de Jesus. E o negou. Mais duas vezes foi reconhecido e, novamente, O negou.
Diz a Palavra: “Pedro lembrou-se da Palavra que Jesus lhe tinha dito: Antes que o galo cante, três vezes me negarás tu. E retirando-se dali, chorou amargamente.” (Mt 26: 69-75)
Sabemos que algum tempo depois, o Senhor Jesus Ressurreto, que havia em sua onisciência visto o arrependimento do seu discípulo, chamou-o numa praia à beira de uma fogueira onde assava peixes, e ali, levou-o a declarar o seu amor por Ele, por três vezes, para que a memória daquela tristeza fosse curada e se efetuasse a operação da cura e da conversão completa de Pedro. (Jo 21:15-17)
Pois bem. Assim aprendemos que precisamos discernir a tristeza segundo Deus da tristeza segundo o mundo. Seja bem vinda a tristeza que constrange o nosso coração (porque o amor de Cristo nos constrange), e que nos leva aos pés da cruz de Cristo. Seja bem vinda a tristeza que nos faz revisar nossas vidas, para buscarmos a verdade sobre nós. Seja bem vinda a tristeza que nos leva a reconhecer o nosso pecado, e buscarmos desesperadamente, não a anestesia passageira e alienante das drogas, da bebida, da sexualidade solta e desenfreada. Mas a cura definitiva para a nossa dor, que só podemos encontrar aos pés do Mestre.
Sim, seja bem vinda tristeza: “Cessou o gozo de nosso coração, converteu-se em lamentação a nossa dança. Caiu a coroa da nossa cabeça. Ai de nós, pois pecamos.”(Lm 5:15-16)
O poeta Vinícius de Moraes, em seu poema: Dia da Criação, nos remete ao lado B da “alegria” do sábado:
“Nesse momento há um casamento, porque hoje é sábado
Há um divórcio e um violamento,porque hoje é sábado
Há um homem rico que se mata, porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata, porque hoje é sábado
Há um espetáculo de gala, porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala, porque hoje é sábado...”
Porque hoje é sábado, eu convido você a celebrar a vida que se renova pela via da tristeza. Foi numa via dolorosa que o Senhor Jesus, numa sexta-feira, se fez todo dor e sofrimento, para que nossas dores e sofrimento cessassem. Porque hoje é sábado, eu convido você a deixar de lado a bebida que entorpece a razão, a busca frenética por um parceiro, o convite sensual da televisão. Porque hoje é sábado, eu convido você a visitar o túmulo dAquele que morreu, para então descobrir que a cruz está vazia, a pedra do sepulcro foi removida, Ele Vive, Ele Ressuscitou!
A alegria Dele é eterna e constante. A alegria que vem Dele é para sempre. Vale a pena revisar, com tristeza, o caminho por onde andamos. Para então, nos alegrarmos, eternamente, com Ele.
“Regozijai-vos sempre; orai sem cessar; em tudo dai graças, pois esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco. Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo. Retende o bem. Abstende-vos de todo tipo de mal. O mesmo Deus de paz vos santifique completamente. E todo o vosso espírito, alma e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também o fará.”(1 Ts 5:16-24)
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